quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz Ano Novo

Aos
Aos amigos, seguidores e leitores, um Feliz Ano Novo repleto de felicidades. Que o Menino Jesus abençoe seus lares, são os votos de Roberto Pimentel e família.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Lesões e receitas de treinamento no voleibol

Duas manchetes despertaram-me a atenção recentemente logo após ter realizado uma intervenção no blog do Arlindo Lopes Corrêa a respeito de lesões no voleibol. Vejam as notícias em ordem cronológica de postagem:
Com 2,01 m, cubano de 15 anos vira "estrela" na Liga Mundial (24.7.2009)
“O vôlei ganhou um menino prodígio. Com apenas 15 anos e 2,01 m de altura, o cubano Wilfredo Léon Venero é um dos destaques da Liga Mundial, e no momento lidera a estatística de melhor pontuador da fase final da competição. (...) Sempre jogou em categorias superiores a sua idade e com 14 anos estreou na seleção adulta”. (Internet)
Marcel Gil: o gigante português
Existirem jogadores brasileiros de voleibol com mais de 2 metros não é surpresa nenhuma. Agora, que um dos dois atletas mais altos do Campeonato Nacional seja português, aí sim é surpreendente. Marcel Gil, de 19 anos, ostenta esse protagonismo na competição e com 2,05 m só há mais um jogador: o brasileiro Gilson França, do V. Guimarães. (
www.sovolei.com/; 7.11.2009)

Acompanhem alguns trechos de nosso diálogo:
Blog do Arlindo - Durante alguns anos Nalbert foi, nas quadras, talvez a peça mais importante da vitoriosa seleção brasileira de voleibol. Aos 28 anos, porém, sofreu lesão dos tendões e operou os dois ombros, resultado da fadiga causada pelo ritmo de jogos/treinamento a que estão submetidos os atletas de hoje. Nossa seleção perdeu prematuramente um de seus principais astros de todos os tempos. Nalbert tentou voltar ao voleibol indoor, Bernardinho incentivou-o, mas não deu para manter o nível qualitativo habitual de seu jogo e o jeito foi resignar-se ao voleibol de praia.
Roberto Pimentel - Há muito, em conversa com professor e técnico influente no voleibol de alto nível, indaguei sobre a prevenção de lesões ocorridas em atletas de nossas seleções principais, pois também me preocupava que não houvesse um estudo sobre o assunto. A impressão que me foi passada foi: 1) as mazelas seriam varridas para debaixo do tapete, não deveriam aparecer; 2) a moderada atividade física realizada em salas de musculação seria suficiente para prevenir lesões; 3) os atletas já chegavam à seleção lesionados, atribuindo-se velada culpa ao procedimento nos clubes de origem; 4) não havia tempo para sua recuperação.
Ao longo da história de nossas seleções tivemos conhecimento dessa prática. Com certeza, os técnicos, ou eram pressionados, ou aplicavam o dito popular, “ruim com ele, pior sem ele”. Foi assim nas Olimpíadas de 1964, quando viajaram somente 10 atletas, sendo que pelo menos um deles lesionado e durante os jogos, ficaram reduzidos a 6 atletas. O fato se repetiria vinte anos depois nas Olimpíadas de Los Angeles. Os interesses falavam muito mais alto do que o zelo pela saúde. Algum tempo depois, um jovem atleta (Shanke?) da seleção brasileira saiu da quadra em pleno jogo e foi levado diretamente para cirurgia de mão com problemas de circulação sanguínea. Afastou-se do voleibol.
Medicina esportiva
Encontrei algumas referências sobre estudos de lesões no voleibol, a partir de trabalhos acadêmicos (não sistemáticos) na internet. Percebo que a chegada do fisioterapeuta às quadras e à praia é recente e, ainda, pouco sedimentada a ponto de influir na metodologia do treinamento. Os técnicos, com a responsabilidade de “fazer ganhar” suas equipes, têm prevalência nas decisões e pouco (ou nenhum) conhecimento sobre como prevenir lesões. No vôlei de praia quem assume toda responsabilidade é o próprio atleta, pois é o patrão. Mas existe um perigo ainda maior. Atenta à orientação que deva ser proporcionada a crianças e adolescentes na prática de atividades físicas, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) criou desde 2003 o Grupo de Trabalho em Pediatria e Medicina Desportiva (
www.sbp.com.br/). Esse grupo conta com a participação das Sociedades de Cardiologia e Traumato-Ortopedia e já produziram dois manuais abordando tópicos diversos para uma boa anamnese e exame posterior detalhado do indivíduo. Foi editado pelo SBP em parceria com o Ministério do Esporte o “Desafio de Chande”, uma versão para crianças daqueles manuais. Finalmente, o tema tem sido discutido em eventos científicos. Falta maior divulgação e, espera-se, que os responsáveis pelos treinamentos/aulas leiam e façam bom uso.
Receitas de treinamento
Muitos julgam que treinar muitas horas por dia é o melhor meio de superação dos adversários. Um dos seus aspectos negativos é a intensidade dos treinamentos. Esta concepção herdamos a partir de 1982, com a competição travada entre Bradesco (Rio) e Pirelli (S. Paulo). Era uma febre de treinamentos e viagens, com os atletas à disposição da seleção aproximadamente 9 meses. Sem isto, dizia-se, seria impossível superar as equipes de ponta no cenário mundial, representadas pela URSS e EUA, esta última campeã olímpica em 84, beneficiada como o Brasil, pelo boicote dos países socialistas ao evento. Como nesse país nada se inventa e tudo é copiado, a mídia se encarregou de difundir esse cenário, que se tornou crença, de que quanto mais treinar, melhor. Puro sofisma. Os “neoprofissionais” de plantão nunca aventaram para o detalhe que reputo mais importante em qualquer treinamento: a QUALIDADE. Além, é claro, do “ócio criativo”, isto é, os intervalos convenientes para reposição de ingredientes indispensáveis à saúde – física e mental – do indivíduo.
A este respeito, vejam o comentário de uma professora de Educação Física ao ler um trabalho pedagógico de minha autoria em que relato algumas experiências no treinamento do voleibol: “Uma citação (na obra) me faz lembrar um trecho de Aristóteles que o Bernardinho colocou no livro dele: Nós somos aquilo que fazemos repetidas vezes; a excelência, portanto não é um feito, mas um hábito!” Podemos, então, deduzir que o Bernardo Rezende (Bernardinho) é ferrenho defensor da REPETIÇÃO. Como se trata de técnico vitorioso, consagrado, pode-se concluir que a sua metodologia é a mais adequada e, portanto, deveria ser adotada. Mas, seria esta realmente a melhor forma de se atingir a EXCELÊNCIA?

O que acham?

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Técnicas de Ensino do Voleibol

Pedagogia do exercício - Repetir exercícios - Educação do comportamento emocional - Treinar com qualidade - Progressos e novas exigências - Aperfeiçoamento técnico - Esforço e satisfação.

Pedagogia do exercício (para qualquer desporto)
No Brasil, e penso que em muitos países, o ensino de qualquer desporto continua encontrando as mesmas dificuldades de outrora, isto é, sabe-se mais a respeito das técnicas de execução dos gestos, das táticas a empregar, de quase todos os ingredientes científicos, mas pouca atenção se dá – diria que nenhuma – aos primeiros aspectos da formação dos futuros praticantes. Defino “futuro praticantes” aqueles indivíduos de pouca idade que se propõem a aprender algum tipo de esporte para o seu lazer e, quiçá, até como profissão.
Repetir exercícios
Em voleibol, como em qualquer outro desporto, o embasamento teórico está voltado para que as respectivas técnicas de execução dos gestos – as habilidades motoras específicas – devem ser aprendidas, aperfeiçoadas e exaustivamente treinadas. Entretanto, essas habilidades motoras atuam em consonância com uma outra componente, a educação dos sentimentos ou do comportamento emocional.
Educação do comportamento emocional
“Educar sempre significa mudar”. Se não houvesse nada para mudar não haveria nada para educar. Que mudanças educativas devem realizar-se nos sentimentos? Todo sentimento é um mecanismo de reação, ou seja, é certa resposta do organismo a algum estímulo do meio. Logo, o mecanismo de educação dos sentimentos é, em linhas gerais, o mesmo para todas as demais reações. Estabelecendo estímulos diversos sempre podemos fechar novos vínculos entre a reação emocional e algum elemento do meio. A primeira ação educativa será a mudança daqueles estímulos com os quais está vinculada a reação. Qualquer pessoa sabe que o que nos causa medo na infância não nos causa depois. Aquilo que provocava pavor e assustava deixa de ser perigoso. (Vygotsky)
Treinar com qualidade
Pode ocorrer que o que se está propondo fazer não é o melhor para o indivíduo, invariavelmente, um padrão de comportamentos estereotipados, “receitas técnicas”, ou como dizemos por aqui, “receitas de bolo”. Quase sempre não há diálogo entre professor e aluno, o que acarreta uma simples imposição dos exercícios, tornando uma repetição cansativa que invariavelmente leva ao cansaço e ao descaso. Despertar o interesse do indivíduo por uma tarefa é torná-lo corresponsável por ela, senão o único a executá-la, corrigir-se até que atinja a perfeita técnica da sua execução. Este deve ser o seu objetivo e prêmio: aperfeiçoar-se e descobrir novos desafios. Assim, treinar com nível de exigência definido e acessível é diferente de “repetir exercícios”, onde o nível de exigência é quase sempre relegado. Destacam-se dois aspectos:
- O indivíduo não é levado a pensar para decidir sobre a nova situação.
- Sendo repetitivos, tornam-se exaustivos.
Progressos e novas exigências
Isto tem um significado pedagógico: todo caso de plena satisfação com os resultados acarreta certas mudanças no mecanismo nervoso da adaptação. Sugere que apenas uma simples repetição ainda não assegura o momento do êxito, uma vez que só a execução “bem sucedida” de alguma ação propicia a formação da organização desejável no sistema nervoso central. Se o mesmo movimento se repete a cada instante, a exaustão leva a resultados insatisfatórios que impedem diretamente a formação de novos caminhos de menor resistência. Este pequeno grande detalhe nos leva a tergiversações infindáveis. Todos já devem ter assistido em cursos ou treinamentos de adultos a aplicação de inumeráveis exercícios objetivando este ou aquele elemento do jogo, implicando um ou mais jogadores, numa sequência às vezes variada de movimentos repetitivos. Por exemplo, assistindo um dos treinos de seleção brasileira (não me recordo o ano), analisei a sua construção e o seu objetivo. Era um treino de defesa individualizado para jogadores que, invariavelmente, ocupam a mesma posição ou área da quadra (I e II). No caso em questão tratava-se de atletas especialistas em ataques de “saída de rede”. Eram dois que se revezavam a cada ciclo de cortadas produzidas por três auxiliares situados no outro campo, posicionados sobre uma mesa; cada um deles nas posições de ataque convencionais. Invariavelmente, os “ataques” se sucediam em profusão, mas em constante monotonia, o que me pareceu comprometer a validade (qualidade) dos exercícios. Acertos ou erros, especialmente estes, não tinham o necessário diálogo entre treinador e atleta. Assim, cumpriu-se o ritual do treinamento, mas não creio que aqueles dois indivíduos tenham acrescentado qualquer aspecto de desenvolvimento no quesito defesa. Mas saíram bem cansados e, pior, certamente teriam que repetir a mesma coisa nos dias seguintes. A meu ver, não acrescentaram nada ao seu cabedal técnico que, com certeza, não incluía saber defender. Lembrei-me do saudoso Adolfo Guilherme (Minas T. C.), que em 1966 à beira da piscina do Grêmio Náutico União, de Porto Alegre, me dizia após nosso jogo pelo campeonato de clubes campeões: “Não sei o que vocês de Niterói fazem (treinos), mas sempre encontramos muitas dificuldades para levá-los de vencida; como defendem”! Uma de nossas vantagens sabia ele, é que atuávamos impreterivelmente duas vezes na semana no voleibol de praia de forma descontraída e moleque.
Esforço e satisfação
Num dos capítulos consagrados aos exercícios, Vygotsky analisa o tema em epígrafe e indica uma das regras psicológicas de importância: o exercício só é plenamente bem sucedido quando acompanhado de uma satisfação interior. E vai além, afirmando que de outro modo se transformaria numa cansativa repetição, contra a qual se rebela o organismo. Em suma, “o esforço coroado de êxito, eis a condição mais importante para se avançar”.
Nas minhas práticas foi assim que procedi ao construir meus exercícios quando treinava solitariamente: tinha-os como verdadeiros desafios a serem conquistados com muita obstinação e esforço, plenamente recompensados. Nos treinamentos que realizei no América F. C., no Rio de Janeiro, e na Praia de Icaraí quando treinava atletas de Vôlei de Praia, imagino ter sido os momentos mais criativos de minha carreira de treinador. Exigia individualmente o cumprimento de todas as fases do exercício, especialmente o “ritmo”, o que importava em repetição desde o início se houvesse algum deslize no seu desenvolvimento. E, detalhe, os companheiros não envolvidos acompanhavam toda a execução, apoiando e incentivando. Os exercícios tinham verdadeira produção teatral, ricos em plasticidade e descontração, traduzidas na alegria e satisfação dos indivíduos, inclusive, gerando plateia. Há alguns anos encontrei-me com um deles (em 1981 tinha 18 anos), que me agraciou com uma declaração demasiadamente generosa ao apresentar-me ao amigo: “Este foi o melhor e maior técnico que já tive”. Valeu a pena! Creio que na fase adulta de sua vida deve estar colocando em prática tudo que emocionalmente vivenciou naqueles tempos. Este é o verdadeiro campeão que buscamos!
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A seguir estarei comentando alguns temas pouco abordados e, por isso, bastante difíceis. Creio que ao compartilhar, opinar, sugerir temas, todos poderemos nos locupletar. Vejam algumas proposições e, se for o caso, coloque o assunto do seu interesse imediato: 1) Será que certas tentativas de ensinar as crianças fracassam porque as técnicas de ensino utilizadas são fracas? 2) Como avaliar a qualidade dos estilos de ensino utilizados? 3) Que critério usaremos para caracterizar o sucesso? 4) Como definir a instrução eficaz? 5) Como e quando as crianças generalizam o que lhes é ensinado, aplicando-o a outros problemas?
Aguardem.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Mini voleibol no Brasil



Mini voleibol no Brasil (parte II)

CRONOLOGIA
1974 - Primeiro contato do autor com o mini vôlei, curso em Recife (PE), Sesi Nacional. Curso no Sesi, em Santo André (SP).
1975 - 1° Simpósio Mundial, em Ronneby, Suécia, com a participação do Autor, que realizou palestra sobre o emprego do jogo de peteca na iniciação ao vôlei. Nesta palestra o intérprete foi o Sr. Rubén Acosta H., à época, vice-presidente da FIVB.
1976 - Autor participa do lançamento do mini vôlei em Congresso Técnico do Campeonato Brasileiro de Vôlei Masculino, Florianópolis (SC). Proposta do SESI Nacional à CBV de formação de um setor que gerenciasse e incrementasse o mini vôlei no País. Era diretor-técnico da CBV Ary da Silva Graça Filho, que aventou o nome de Heckel de Miranda Raposo para o cargo.
1978 - Autor encaminha projeto de mini vôlei para a CBV.
1981 - Aulas de apresentação do mini vôlei no Curso de Técnica da UERJ, Rio, sendo titular o Professor Paulo Matta.
1984 - Autor é convidado especial ao 1° Simpósio Nacional de Mini Vôlei, Buenos Aires, Argentina. Autor realiza a 1ª Clínica de Mini Vôlei na AABB, Rio de Janeiro, com participação de Nuzman (CBV), Delano (FMV), Paulo Matta (UERJ), Célio Cordeiro (UGF) e Paulo Márcio (supervisor técnico da CBV).
1988 - Autor apresenta projeto à CBV para produção de Festival (dez mil crianças) na praia durante o Mundial de 90, no Rio.
1990 - Palestra sobre mini vôlei na Escola de Educação Física do Exército para o Curso de Instrutores de Educação Física.
1991 - Clínica de mini vôlei na praia para 1.200 crianças, simultaneamente, em Fortaleza, Recife, João Pessoa e Niterói, com apoio da Secretaria de Esportes da Presidência da República (Zico) e da CBV (Nuzman).
1992 - Livre iniciativa do Autor com a produção de cursos regulares na praia de Icaraí, Niterói, duração de cinco anos, com aulas para até 400 alunos.
1995 - Cessão de material para Bernardinho, no Centro de Excelência “Rexona” – Curitiba (PR) . 1ª Clínica de minivôlei na praia de Copacabana, Rio, com a Fundação Rio Esportes, 300 alunos.
1996 - Autor lança site na Internet: www.urbi.com.br/users/pimentel
1997 - Autor é convidado para coordenador–técnico da CBV para programa de iniciação com mini vôlei (Vivavolei) .
1998 - 1° Festival de Mini Vôlei, 108 escolares do Rio e de Niterói, com permissão da FIVB, após Brasil x Rússia, Liga Mundial, Maracanãzinho. Autor realiza “aulas-demonstração” do método em dezenas de escolas do Rio e Niterói. Feira Olímpica, “Um Dia na Praia”, mini vôlei em Copacabana, COB, 300 crianças.
1999 - Programa Prospecção de Talentos – com base nas “impressões digitais” – é entregue ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB), produzido pelo Autor e o Doutor Professor José Fernandes Filho.


Autor realizou aulas de demonstração do método na Universidade Gama Filho (3 aulas), na UFRJ (2 aulas) e na Universidade Estadual de Santa Catariana - UDESC (2).

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Minivoleibol no Brasil

1° SIMPÓSIO MUNDIAL
Global Minivolleyball Symposium–FIVB
O Simpósio foi realizado na cidade de Ronneby, ao Sul da Suécia, em julho de 1975, durante seis dias. Teve o apoio da Federação Sueca de Voleibol e contou com considerável número de participantes, entre eles, dois brasileiros: o professor Roberto Pimentel e Walderbi Romani, ex-técnico da seleção brasileira e do Paulistano (SP). Tive os custos da viagem patrocinados pelo SESI – Departamento Nacional, à época de Otto Reis e Silva na chefia do programa de iniciação daquela entidade, enquanto que Walderbi representou a CBV como integrante do Conselho de Treinadores. Na programação apresentada pela FIVB e sueca constavam vários temas a serem debatidos e algumas atividades práticas. Após o retorno, o SESI-Nacional fez proposta de convênio com a CBV no sentido de realizarem conjuntamente estudos e programações pertinentes. Foi criada uma comissão de professores do SESI de Santo André (SP), do qual faziam parte o próprio Walderbi e entre outros, José Brunoro. Pelo SESI Nacional, o professor Roberto Pimentel. Esta Comissão realizou um estudo contendo várias sugestões encaminhadas à CBV. De prático, resultou no lançamento “oficial” do mini voleibol para o País no congresso técnico do campeonato brasileiro masculino, em Florianópolis, em 1976. A CBV, através do então diretor-técnico, Ary da Silva Graça Filho, propôs o nome do Sr. Heckel Raposo para presidir a futura Comissão de Minivoleibol que se formaria a seguir. Contudo, alguns impasses de ordem política foram colocados pelo grupo paulista, o que resultou no malogro de todo o trabalho. O SESI Nacional, através de seu representante Roberto Pimentel, retirou-se do convênio e encerrou sua participação, tendo dado continuidade à difusão do minivoleibol por sua própria conta e risco, através dos Cursos de Iniciação que programava duas vezes ao ano em suas sedes Regionais, especialmente no Nordeste.
Gênesis
O SESI – Serviço Social da Indústria foi criado em 25 de junho de 1946 por decreto-lei, sendo presidente da República, o general Eurico Gaspar Dutra (CRONOLOGIA, “Nosso Século” volume 1945/1960). O sistema S, formado pelo Sesc, Senac, Sesi, Senai, Senar e Sebrae, recolhe cerca de R$2 bilhões/ano (exercício de 2000) e é mantido pelos empregadores com contribuição oriunda da folha de pagamentos. Presta relevantes serviços sociais e educacionais aos assalariados e aos próprios empresários. E, conseqüentemente, ao País.
O Sesi, Departamento Nacional, cuja sede era no Rio de Janeiro e tendo à frente um cearense – Thomas Pompeu – e, na sua coordenação esportiva o Coronel da Aeronáutica Otto Reis e Silva, criou e incentivou o esporte nacional durante algum tempo, com investimentos significativos na iniciação esportiva. Em janeiro de 1974, fui convidado a fazer parte da equipe de professores (terceirizados) no Rio de Janeiro, que auxiliavam na promoção dos cursos de iniciação e atualização em diferentes Centros Esportivos da entidade. Mais especialmente, no Nordeste. Nesta minha primeira e inesquecível experiência tive a ajuda e participação inesperada de um colega de universidade, Petrúcio, excelente professor de judô. O destino era o Centro do Ibura, nos arredores do aeroporto de Guararapes, em Recife (PE). Sabedor de minha especialidade presenteou-me antes mesmo do embarque com um pequeno recorte de revista, rasgado, que informava ao leitor sobre uma forma de aproveitamento de espaço para o ensino do voleibol para iniciantes: “vôlei em campo pequeno”. O recorte não tinha mais do que dois períodos de texto, mas um providencial croqui sobre aquela forma de dispor os campos num ginásio ou espaço equivalente. Na viagem, já fui matutando como poderia dispor os alunos e construir uma metodologia pertinente para os professores que fariam o curso de monitores. O Centro estava em obras, não tendo sido ainda inaugurado. Isto contribuiu para que, junto com o gerente, pudesse esquematizar como construir os postes removíveis que bolara para a confecção das pequenas quadras de jogo. Aproveitamos tubos de PVC e construímos as bases com discos (30cm) de concreto. Os postes não receberiam redes, mas sim cordas: furâ-mo-los a 2,5m de altura, e uma única corda foi perpassada, do primeiro ao último, compondo várias miniquadras, no sentido longitudinal de uma quadra (de tabela à tabela). A marcação improvisada com giz ou carvão deu o toque final às medidas dos campos de jogo. Metodologia e pedagogia foram produzidas em curtíssimo espaço de tempo, ou simultaneamente às aulas, de acordo com a imaginação. “Fiz-me criança e dei vazão à criação”. Quando do retorno, descobri na biblioteca do Sesi artigo elucidativo daquele que considerei “guru” e orientador neste trabalho precursor, o alemão Gerard Dürwächter, com quem me encontraria um ano depois, na Suécia.
Empolgado pelas aulas e receptividade das crianças, aprofundei-me em leituras, tendo desenvolvido, então, um curso didático para professores, estabelecendo métodos e caminhos a perseguir na iniciação do vôlei, dando-lhe característica diversa à que estávamos acostumados nas escolas de Educação Física e mesmo nos clubes. Além de ocuparmos mais alunos por classe, as aulas passaram a ser muito mais dinâmicas, alegres e ruidosas, despertando a atenção e atraindo mais adeptos para o esporte. Realizei no mesmo ano, em julho, ainda no Ibura, um segundo curso, com outros professores, consolidando o método. Produzi todo o planejamento e material didático em diapositivos permitindo maior criatividade nas aulas e demonstração do método por toda a equipe do Sesi simultaneamente em outros Centros. No início de dezembro, ainda em 74, realizei um curso (3 dias) de atualização para professores do Sesi de Santo André (SP), onde se destacavam como alunos, Walderbi Romani e José Carlos Brunoro, ambos professores do Sesi. Este último viria a ser também técnico da seleção, da Pirelli e, hoje, consagrado empresário esportivo.
Quer saber mais? Envie seu comentário...



















sábado, 5 de dezembro de 2009

História do Voleibol no Brasil, séc. XX


Uma obra memorialista
Diz-se que o brasileiro não tem memória. Isto é um fato. Daí poderem aquilatar o meu esforço de muitos e muitos anos de trabalho para juntar os pedaços de memória que dormitavam em caixas, pastas e envelopes de muitos lares. Presto uma homenagem única a todos que nunca estiveram no foco das televisões ou revistas especializadas: seus nomes (aproximadamente dois mil) estão impressos e eternizados nesta obra. São tempos que nunca nos esqueceremos e nas suas leituras você se sentirá sorrindo, jogando, saltando... Saberá também sobre a Evolução das Regras, a Arbitragem com seus personagens e histórias hilárias, o nascimento do Vôlei de Praia, Jogos de Cambuquira, Jogos da Primavera, Jogos Infantis, Mini Voleibol e muito mais coisas.

Pedidos
A obra já está no prelo e as histórias estão contadas a partir desse volume com aproximadamente 600 páginas e um número alentado de fotos. Ali são narrados acontecimentos no Rio de Janeiro desde 1939. Se você participou de alguma forma como atleta, técnico, ou na equipe de arbitragem nos anos de 1960 a 1970, muito provavelmente verá ali o seu nome, e ainda, o resumo das Atas de Reunião de Diretoria da FMV (1944-1956), uma raridade encontrada nos porões do Maracanã.
Não tenho qualquer patrocínio, arco com todas as despesas e, por isso, a tiragem é restrita e preliminarmente direcionada aos principais artífices dessas histórias. Os pedidos/reservas podem ser feitos diretamente ao autor em roberto_pimentel@terra.com.br ou mesmo para este blog. Não espere muito e teça comentários. Se você tiver algum contato relativo a patrocínio/apoio, ainda há tempo de concretizá-lo.

Seleções brasileiras
Um segundo volume com pouco mais de 500 páginas estará complementando o trabalho. Nele, acompanho as seleções brasileiras desde sua primeira formação em 1951. Estará enriquecido com outros aspectos relativos às nossas representações em campeonatos internacionais e comentários pertinentes. Aguarde um pouco mais, pois já está pronta para ser enviada à gráfica. Imagino, então, que a partir daí terão nas mãos uma obra de referência inédita.
Apresentação (Resumo, por Arlindo Lopes Corrêa)
Nos últimos anos tenho acompanhado Roberto Pimentel em seu esforço hercúleo e persistente para escrever a “História do Voleibol no Brasil”. (...) Paixão! Essa é a palavra-chave... O trabalho enciclopédico de Roberto Pimentel e todo sacrifício pessoal que implicou só foram possíveis e se explicam por uma paixão profunda do autor pelo voleibol, esporte no qual foi exímio praticante, excelente técnico, professor dedicado e agora o seu mais completo memorialista. Roberto Pimentel, pioneiro do minivoleibol no Brasil, é de uma geração abnegada do voleibol nacional.
(...) Nada escapou ao enciclopedista do voleibol, como se deduzirá da leitura desta obra de referência, (...) Porque, coerente, Roberto fez seu trabalho como nossa geração praticou o esporte: com grande amor e com o exclusivo interesse de nos superarmos a nós mesmos, de ultrapassarmos nossas limitações físicas e psicológicas. Afinal, é essa posição filosófica diante da vida que confere uma insubstituível dimensão ética à atividade humana em sua passagem pelo mundo.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Mini voleibol na escola

Experiência em trabalhos ativos: originalidade e liberdade
No final da década de 70 sugeri à coordenação do colégio Salesianos, de Niterói, a implantação do minivoleibol no recreio e horas vagas de seus alunos. Foram instaladas treze pequenas quadras que permaneceram até nossos dias, sempre disponíveis para a prática livre, fora do horário de aula e sem a presença de qualquer professor. Após breve período de adaptação com a novidade e a consequente aceitação, a Coordenação de Educação Física houve por bem definir a disponibilidade dos campos por séries, de forma a atender a demanda democraticamente. Mais adiante, foi-lhes sugerido organizarem torneios, que se tornaram um acontecimento inédito. E, ainda, sem a participação dos docentes. Regras, tabelas de jogos, tudo orquestrado pelos alunos. Promovi também uma reportagem inédita com a TV - Educativa no intuito de divulgar a metodologia e suas inerentes vantagens. Foi vinculada para todo o País.
Com o passar do tempo, registrou-se um fato concreto, comentado pelo experiente professor das equipes de voleibol do educandário: “A partir da instalação dos pequenos campos, os candidatos a integrarem nossas equipes já chegam jogando voleibol”.
Exemplos dessa natureza observei igualmente em clube da Zona Sul do Rio de Janeiro, onde instalei alguns campos para a prática do mini voleibol: as crianças, por si só desenvolviam destreza e habilidade no manejo da bola, raciocínio rápido e, ainda, uma inteligência tática muito aprimorada, capaz de encantar qualquer observador mais atento. Em suma, “aprendem sozinhos”, sem a presença do professor.
Estas são formas de como solucionar dificuldades para aplicação do ensino de um desporto – despertar o interesse e disponibilizar instalações e equipamento – a custo baixo. Basta ao professor, mesmo generalista ou com pouco conhecimento do voleibol, que indique aos seus alunos alguns dispositivos básicos – como organizar um torneio – para que adquiram a capacidade de se desenvolverem por conta própria.

Detalhes que fazem a diferença
Numa das aulas de apresentação da metodologia que emprego em outro educandário, observei alguns pequenos detalhes que revelam quase sempre a conduta pedagógica do estabelecimento. Nos momentos que antecederam a apresentação da classe, reparei o deslocamento quase militar dos 24 alunos sob a batuta de um dos professores de educação física. Até a entrega do grupo no ginásio onde realizaríamos a apresentação foi um silêncio constrangedor, em se tratando de crianças de 12-13 anos de idade. Após as devidas apresentações e com a presença da diretora iniciamos a aula.
Procedeu-se uma mudança brutal de comportamento, uma vez que os concitei a produzirem uma pequena algazarra com movimentos livres com a bola que cada um recebeu. Aos gritos, lançavam-nas ao alto, deixavam quicar no solo, entreolhavam-se sorrindo; dando sequência, sugeria outros movimentos buscando a espontaneidade de gestos, o que lhes parecia o paraíso. A seguir ia introduzindo novos elementos e exercícios. No entanto, não pude deixar de notar, havia uma única menina na arquibancada, muito agasalhada para o calor reinante. Inicialmente, sentara-se distante (5-6 degraus acima). Convidei-a a participar, mesmo sem o uniforme de ginástica, mas declinou gentilmente. A aula continuava agitadíssima e em dado momento pude ouvir um dos maiores elogios que um professor poderia receber por seu trabalho, ainda mais vindo de aluno que conhecera naquele instante. En passant, disse um para o outro: “Puxa, assim que tinha que ser as aulas de educação física do colégio!”. Sem perder a pose continuei meu trabalho e, mais uma vez, meu olhar posou na mesma menina da arquibancada que, agora, estava à beira da quadra e pude observar seu semblante de alegria e fervorosa vontade de estar ali brincando com os demais. Diante de novo convite discreto, disse-me: “Não posso participar, estou sem uniforme do colégio” (por isso o casaco). Ao que retruquei: “Venha assim mesmo”! Não resistiu e imiscuiu-se entre os colegas, divertindo-se a valer.

Um lembrete
“O sucesso individual é determinado pelo seu desejo (interesse), capacidade de ser ensinável e vontade de trabalhar”.
Uma regra escolar para favorecer o crescimento do aluno e sua liberdade (relativa) deveria ser a execução de uma atividade envolvente, o que o torna automaticamente disciplinado. Esta liberdade pode ser vista como a possibilidade do ser humano vencer obstáculos. Buscam-se técnicas pedagógicas que possam atrair TODAS as crianças no processo de aprendizagem, independentemente da diferença de caráter, inteligência ou meio social, lembrando que o conteúdo estudado no meio escolar deverá estar relacionado às condições reais de seus alunos e sua importância nas relações aluno-escola. Por ironia do destino, foi este mesmo colégio que freqüentei aos 11-12 anos de idade (1951-52) e, conforme relato na crônica anterior, foi ali que participei de torneios internos de basquetebol e dos Jogos Infantis. Embora a diretora seja a mesma daqueles momentos, quero crer que muita coisa mudou no educandário – para pior, infelizmente.
Dessa forma, propõe-se aos professores idealistas que estudem as condições concretas que estejam impedindo a realização de seus projetos. Uma proposta seria reinventar antigas formas de associação de alunos – o Centro Acadêmico, a Associação Atlética – que persistiram em alguns educandários até o final da década de 50. Seria uma solução para a falta de tempo dos docentes e economia para a instituição, uma vez que os próprios alunos poderiam se conduzir. E, como vimos no depoimento bem piagetiano do professor, "as crianças aprendem sozinhas".
E você, tem alguma experiência neste sentido. Gostaria de tentar? Não conheço professor que tenha reclamado.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Teoria vs. Prática

Volei vs. Volei"
Nunca é tardio para se elogiar e tirar ensinamentos de um trabalho consciente. Refiro-me aos estudos do Professor João Crisóstomo Marcondes Bojikian da Universidade Presbiteriana Mackenzie, publicado na Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – 2002, 1(1):117-124 sob o título Volei vs. Volei”, cuja íntegra pode ser vista em http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCBS/Cursos/Educacao_Fisica/REMEFE-1-1-2002/art10_edfis1n1.pdf117 Palavras-chave: Voleibol; Aprendizagem Motora; Habilidade Motora; Repertório Motor; Aperfeiçoamento Técnico.


Vejam o resumo de nosso diálogo.
João Crisóstomo. Estuda-se na literatura possíveis relações entre a especialização unilateral precoce e a qualidade final da performance. Sugerem-se possíveis relações entre vivências motoras variadas na infância – utilizadas como formação de memória motora ampla e variada – com a capacidade de aperfeiçoamento técnico voleibolista da idade adulta. As fontes atestam que a prática do voleibol de alto rendimento necessita de um repertório de recursos técnicos somente possível para atletas que possuem memória motora compatível. Isto levanta a hipótese de que o voleibol praticado na infância de forma sistematizada visando à formação de futuros atletas para a modalidade, na verdade, atua como fator limitante para o desempenho de voleibolistas adultos.

Roberto Pimentel
Formação. Sou um ex-atleta, professor e técnico diplomado pela antiga ENEF, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Durante muito tempo venho me dedicando a descobrir uma metodologia que favoreça a aprendizagem motora necessária ao ensino esportivo, especificamente o voleibol. Durante anos ouvi de professores e treinadores de voleibol que se o indivíduo não aprendesse o esporte em criança, não aprenderia jamais na fase adulta. Felizmente, no meu caso a coisa não aconteceu assim, muito pelo contrário, como poderão ver no relato que fiz recentemente àquele professor.
Infância. Finalmente encontrei alguém que descreve o que sempre imaginei tenha acontecido comigo. Um menino niteroiense pobre, descalço pelas ruas ainda de terra, chutava qualquer tipo de bola (de borracha, de meia), aprendi a nadar com meus irmãos mais velhos que me deixavam no mar distante da areia, cedo jogava xadrez e basquete. Com minha irmã, iniciei os primeiros toques no voleibol (que nunca esqueci), e brincava com os mais novos em competições de “quem sobe mais rápido nas seis árvores frondosas da praça”. Pegávamos mangas, goiabas, genipapos, sempre trepando nas árvores. Pescávamos siris e peixes em abundância. Para tal, recolhíamos no lixo do Mercado de Peixe as necessárias iscas – guelras, baratinhas da praia, minhocas, desentocadas debaixo de grandes pedras na praia. Sem falar das brincadeiras com dezenas de crianças, de bola de gude, cafifa (pipa), pular corda e a escambida, que talvez não tenham conhecimento. Nos arremessos, que fazia sempre com o braço esquerdo (não sou canhoto), era invejável minha pontaria. Sem falar na bicicleta, minhas pernas e companheira por muitos e muitos anos.
Juventude. O estudo acima referido se ajusta a tudo que fiz na infância. Competitivamente, joguei somente o basquete aos 11 anos de idade. Nesta mesma época, na escola, participei dos Jogos Infantis uma promoção do Jornal dos Sports, no Rio de Janeiro. Só voltei a tornar-me um atleta federado aos 18 anos. Então, passei a treinar o voleibol que somente jogara intuitivamente no colégio sem qualquer treinamento por parte de professor. Neste ano (1958) disputei duas modalidades: basquete e voleibol, que se alternavam durante a semana. Tinha então, 18 anos. No ano seguinte, fui atuar no voleibol do Botafogo, no Rio. Resumindo, em 1962 estava convocado para a seleção brasileira que treinaria com vistas ao mundial da Rússia. Nos treinos coletivos fui considerado o melhor jogador daquele grupo. E, digo ainda de passagem, durante o período de 1959 a 1962, não disputei os campeonatos cariocas de 1ª divisão; somente o de aspirante, em 1960. Todavia, um pequeno grande detalhe me favoreceu: após o Mundial de 60 cuja fase final desenvolveu-se no Rio de Janeiro e em Niterói (minha cidade), passei a treinar solitariamente três vezes na semana, das 8h às 10h, durante aproximadamente três meses. Como sou autodidata, isto não me custou muito, pois criava os exercícios que achava conveniente para o meu desenvolvimento, inclusive, a atacar com ambos os braços. Atuar, somente na praia ou em clubes (coletivos, amistosos) e torneios avulsos. Aliás, minha convocação deu-se a partir de um dos torneios de Vôlei de Praia do Jornal dos Sports em Copacabana, no qual participavam todos os grandes atletas dos clubes cariocas, inclusive os de seleção brasileira. Foi quando passei a integrar essa elite com muita honra. Ia-me esquecendo, em 1961, por ocasião dos Jogos Universitários em Vitória (ES), fui “convocado” na viagem de ida, ainda no ônibus, para atuar na equipe de basquete (integrava somente a de voleibol). Fomos vice-campeões no basquete e por pouco não fui convocado para a Universíade daquele ano na Bulgária. No torneio de vôlei, uma grata surpresa, o elogio do técnico mineiro Adolfo Guilherme que, após o jogo, fez questão de me cumprimentar ainda na quadra e deixar o seu carinho e incentivo: “ Garoto, daqui pra frente SELEÇÃO”!
Busca de nova metodologia. Assim, fez-se em mim o que muitos anos mais tarde este estudo viria a demonstrar com bastante autoridade. Sempre procurei examinar o porquê de minha relativa competência, que instintivamente me levava a considerar os episódios múltiplos das memórias corporais que adquiri na infância. Agora tenho certeza que aquela intuição era o prenúncio da verdade. Por isso, advogo que ninguém aprende adequadamente um movimento, p.ex. da cortada, se siquer sabe arremessar um objeto. Então, passei a preconizar que as crianças aprendam brincando e que essas brincadeiras levem-nas a arremessar objetos, saltar e transpor obstáculos organizar-se em torno de um paraquedas, chutar bolas, esquivar-se de arremessos, agachar-se e progredir, rolar etc., tudo isso antes do jogo rígido. Deixo-as brincar de jogar voleibol sem exigências táticas ou técnicas. No fim, digo a todos, acabam aprendendo a jogar sozinhas e com muita alegria. É como aprender a andar de bicicleta, quando se dão conta, já saem pedalando.


João Crisóstomo. Fiquei muito feliz ao receber teu e-mail tecendo comentários sobre o "Volei vs Volei". É muito gratificante quando pessoas, que além de terem se destacado como atletas de voleibol, tem relevância profissional por terem estudado, escrevem coisas como as que você escreveu. Vou guardar com carinho tua mensagem pois ela representa um depoimento muito importante, onde a prática confirma a teoria dando-lhe consistência. Espero que você já tenha lido outras coisas que escrevi. Sempre que posível mande sugestões. Grande abraço e não desapareça!


A seguir, quer saber "Como programar aulas para crianças em formação"? Envie o seu comentário, troque opiniões e aprendamos juntos.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Lições de um projeto e perspectivas da aprendizagem







Interação e Construção do Conhecimento (parte III)
Como e em que circunstâncias a cooperação e a comunicação levam à construção conjunta de conhecimento e compreensão entre crianças?

Por entendermos que circunstâncias são elas mesmas indeterminadas ou indefinidas, e se associam ao tempo ou ao momento oportuno para estabelecer a maneira correta de agir (Aristóteles), passamos a criá-las no nosso pequeno “laboratório” (Morro do Cantagalo).
Em se tratando de grupo numeroso de aprendizes prefiro tratar este assunto na esfera da interação entre colegas e não propriamente com o professor. O alcance parece ser bem mais significativo, desde que se identifiquem lideranças capazes desse mister. Não é difícil descobri-las ou mesmo encorajá-las. Vejam o exemplo a seguir:
Descrição: exercício com uma biruta (uma adaptação do aparelho capaz de mostrar a direção do vento) e 24 bolas; metade do grupo se exercita e a outra metade auxilia na reposição de bolas. Após algum tempo de prática, troca de funções. O professor dita o ritmo das tarefas.
Tarefas: alunos colocados de um lado da quadra e a biruta do outro; o professor lança as bolas por cima da rede e os alunos (individualmente) lançam-na de toque para dentro da biruta (colocada do mesmo lado do professor). Segundo grupo colabora com presteza e velocidade na reposição das bolas em favor do ritmo dos ensaios.
Considerações: o simples fato de existir um alvo e ter sucesso nos arremessos era motivo suficiente para o regozijo dos alunos. A surpresa ficou por conta do grupo que ajudava na reposição das bolas que invariavelmente se espalhavam pelo ginásio. Com muita alegria dispuseram-se inteligentemente atrás e ao lado da biruta e recolhiam as bolas desperdiçadas; estas eram arremessadas pelo chão a um colega, próximo ao professor. Este, então, municiava os arremessadores. O empenho dos recolhedores de bola foi tamanho que mereceu elogios do mestre que, não desperdiçando a oportunidade, solicitou uma salva de palmas. Ao recomeçar o exercício com a troca de função dos grupos, fez-se um apelo para que tentassem superar os primeiros em “serviço ao próximo”. Nem seria preciso, tamanho o clima de camaradagem que se criou em torno de nossas brincadeiras. Confesso que nunca vi algo igual e lembro-me de ter-me emocionado com uma pequenina lágrima. Naquele breve instante, senti que me tornava amigo de todos. E mais ainda, afortunado por estar ali entre crianças tão espontâneas. Ao terminarmos, reunimo-nos e nos saudamos com uma grande salva de palmas e muitos gritos de alegria pelas brincadeiras. Então, a surpresa maior: “Indagados, avaliaram como melhor coisa a função de recolher as bolas”! Saí dali enriquecido...

Tatear experimental
Através do tatear e da possibilidade de relatar as próprias vivências, as crianças desenvolvem sua autonomia, seu juízo crítico e sua responsabilidade. Para muitos, a escola tradicional é inimiga desse método, permanecendo fechada, contrária à descoberta, ao interesse e ao prazer da criança. Ao final de cada aula resumia o que foi realizado e lhes solicitava a confecção em casa de desenhos ou escritos sobre as atividades.
A aprendizagem por tentativas e erros representa um modo primitivo lento e às vezes ineficaz. Os imperativos sociais e a necessidade de chegar a resultados rápidos levam o educador a adotar uma atitude mais intervencionista, atraindo a atenção do aluno sobre tal ou qual aspecto particular do movimento. Para que este tipo de aprendizagem se torne eficaz: 1) deve-se voltar frequentemente à realização global a fim de que o indivíduo consolide suas aquisições; 2) é necessário partir dos automatismos naturais da criança, cujo desenvolvimento deve continuar global; 3) deve-se chamar a atenção para um só detalhe de cada vez.

Conceito de heurística
Define-se procedimento heurístico como um método de aproximação das soluções dos problemas, que não segue um percurso claro, mas se baseia na intuição e nas circunstâncias a fim de gerar conhecimento novo.

Intuição
Esta experiência transcorreu em outro dia, paralela ao desenvolvimento de uma das aulas, desprovida de qualquer programação prévia. Provavelmente, uma intuição, ou em bom português, deu-me na telha. E vejam quanto ensinamento retirei desta intuição.
Enquanto a aula transcorria normalmente, dediquei-me a três meninas de 4-5 anos de idade que se achavam no local e não inscritas para as atividades; uma delas inclusive portando chupeta na boca. O experimento consistiu em fornecer-lhes 12 bolas de tênis para lançamentos de variadas distâncias contra uma parede. Foram observados mais uma vez os três aspectos pertinentes à “instrução individualizada” assinalados anteriormente. Destaca-se aqui o papel do professor promovendo as interações entre as próprias crianças e os benefícios quando uma é ajudada por outra. (“Dois errados podem fazer um certo”)

1ª fase – Situação inicial: entregue as bolas houve disputa acirrada para conseguir o maior número para si (sentido de posse). Após alguns instantes propusemos nova tarefa: as crianças sentadas no solo em círculo, bolas no centro, cada uma retirava uma bola alternadamente. Ao final, constataram que possuíam o mesmo número de bolas e mostraram satisfação (ou resignação).
2ª fase – Preliminares da tarefa principal: de pé, a 2m-3m da parede, foi-lhes sugerido que arremessassem as bolas e as recuperassem. Aconteceu um tirambaço e profusão de dificuldades: bolas que se perdiam pelo ginásio, busca da bola da companheira, aproximação do alvo e, finalmente, perplexidade, pois não mais encontravam bolas para novos arremessos.
Comentário – Manter a posse das 4 bolas junto ao corpo, tendo a tarefa de arremessá-las constituiu-se no maior obstáculo nessa fase. A capacidade de regular o próprio pensamento e atividade, de reconhecer que a primeira coisa que vem à cabeça nem sempre é a correta, de buscar reformulações, simplificações e estimativas aproximadas da solução provável de um problema, são todas realizações intelectuais que nascem das interações entre novatos e indivíduos mais peritos. Com certeza, precisavam de ajuda. Revela informações importantes para uma avaliação do professor a respeito do intelecto dos alunos.

Método da gradação de ajuda, como ajudar?
O esquema vai da ajuda verbal geral. P. ex.: “Será que não há outro jeito”? Até a demonstração: “Olha o que acontece quando eu faço isto”! (Metáfora do andaime)
Quando se trabalha com crianças pertencentes a grupos de “baixa capacidade” e “terapêuticos”, descobre-se que suas atividades autorreguladores são insatisfatórias. Atribui-se a carência de tais habilidades a duas razões: pouco contato com indivíduos que as utilizam ou precisam de mais experiências que as outras crianças para aprender a executá-las. A autorregulação é atividade particular, invisível e inaudível. Para ajudar as crianças a descobrir como regular a própria atividade de resolução de problemas buscou-se externalizar o processo de autorregulação, como os de fazer perguntas para si mesmo, lembrar-se, procurar novos indícios, tentar ver o problema a partir de outro ângulo. Para tanto, representava-se esse tipo de processo enquanto resolviam-se problemas junto com as crianças. Aquilo que conseguiam realizar com um pouquinho de orientação de um perito era muito superior a seus esforços solitários. (David Wood)

3ª fase – Intervenção do professor: várias intervenções se sucederam a partir deste momento, o que levou as crianças a se autorregularem ao fim do exercício. A primeira foi colocar as bolas no chão, próximo aos pés. Depois, “Que tal tentar outro jeito”?
Outra dificuldade foi recuperar a bola: faziam-no com a ajuda de ambas as mãos e o tronco (abdome). Foi-lhes sugerido, com um mínimo de instrução, segurar uma bola em cada mão e arremessar uma delas. Desenvolveram-se, então, os primeiros ensaios para a apreensão correta com uma das mãos. Os lançamentos tornaram-se mais controlados (força e direção). As duas outras bolas naturalmente foram desprezadas. Assim, permitindo uma sequência razoável aos ensaios e de instrução em instrução (e pouca fala), chegamos aos arremessos com a mão esquerda (“a outra mão”).
Como diria Pavlov, “lancei apenas investigações objetivas, deixando de lado todo o subjetivo”.

domingo, 15 de novembro de 2009

Lições de um projeto e perspectivas da aprendizagem (parte II)

Linguagem
A abertura do curso consistiu num espetáculo marqueteiro voltado para a mídia. Convidados a então governadora do Estado – Benedita da Silva – seu marido e Secretário de Estado, diversas atletas de seleção e campeoníssimas do vôlei de praia, além da direção do CIEP e a totalidade dos alunos daquele turno. Não poderiam esquecer da TV, é claro.
Curiosamente, esta foi a segunda vez que tive contato com um grupo de alunos com os quais eu faria pequenos esquetes de apresentação da metodologia. O primeiro foi na véspera. No grande dia, estando o ginásio repleto, e após alguns discursos, desenvolvi minha parte com os ensaios que julguei pertinente. O auge da apresentação, constituindo-se surpresa geral, foram as brincadeiras produzidas com um paraquedas que reservo como surpresa. Em torno dele cabem muitos indivíduos e todos, sem exceção (inclusive a governadora), foram convidados a brincar. E como se divertiram!
Terminado o evento, fui procurado por uma das diretoras que exclamou: “Estou aqui há 16 anos e conheço bem o meu ofício e nunca vi coisa igual. O Senhor chegou ontem, entretanto parece que as crianças já o conheciam de longa data! Como é possível”? Certamente, referia-se à conduta do professor em relação ao grupo e à linguagem (comunicação) empregada. Senti-me orgulhoso no reconhecimento de meus esforços na busca de uma metodologia inovadora e na conduta que abracei.

Instrução individualizada ou em grupo?
Este é o primeiro dilema que se nos depara. Pode ser também expresso como “que devo ensinar primeiro, a técnica (fundamentos) ou o jogo propriamente dito (tática)”? A experiência me ensina que os indivíduos estão ali para se divertir e brincar. Se lhes proporciono este quesito terei realizado seus desejos. Então, a pouco e pouco, sugiro que lhes seja garantida diversão e instrução, isto é, em cada sessão, exercícios técnicos e jogos. E para que esses exercícios não se tornem enfadonhos e despropositados, que sejam propostos de forma lúdica: ficam preservados ganhos psicológicos e participação mais intensa. Lembro que já presenciei treinos com 18 participantes que realizavam ataques na rede com utilização de uma forca; a cada ação, individualmente recolhiam a própria bola e retornavam à fila, isto é, aguardavam 17 outras intervenções.
O tempo que destinaria ao “aquecimento” prefiro que os alunos brinquem com o objeto do seu desejo, a bola. Se não tiverem intimidade com ela, seu aprendizado estará demasiadamente prejudicado. Se for possível uma bola por indivíduo será o ideal; caso contrário, o professor diligenciará para que cada um tenha o máximo proveito nestes contatos iniciais de malabarismos, lançamentos etc. A seguir, utilizo um estratagema em que, fazendo uma pequena encenação teatral, consigo que a cada proposta de exercício ainda não conhecido, TODOS os alunos se reúnam no centro da quadra. Ali, enuncio e já realizo rápida demonstração com alguns deles, sem a preocupação de detalhes (“linguagem proposta”). Dali retornam aos seus lugares nas miniquadras e, por sua conta, dão início à tarefa. É bem possível que neste momento haja uma dificuldade que deve ser compartilhada pelo grupo para a consecução da tarefa (“discussão e interação”). Para manter o ritmo dos exercícios (dinâmica da aula), uso também recurso bem simples: o grupo que utiliza o campo central será sempre o “demonstrador do dia”; antes de convocar todos ao centro antecipadamente já os instruo para a novel demonstração.
A partir da construção dessa linguagem posso aquilatar o ponto onde o aprendiz está e desenvolver uma psicologia de forma harmoniosa. Estes desafios são superados à medida que proponho novas tarefas. Nesse momento minha observação recai em “como cada grupo está realizando (pensando) sua tarefa”. A partir de agora minha tarefa torna-se mais difícil, pois se trata de saber “como e quando” intervir (“metáfora do andaime”). Um auxiliar poderoso poderá ser um dos próprios alunos do grupo com alguma experiência ou liderança, ou ainda, um pequeno lembrete: “Vejam como o grupo vizinho está fazendo”! Asseguro que as possíveis perdas nesta fase são insignificantes face aos ganhos inequívocos quando à maneira de pensar futura, que passa a integrar a personalidade do indivíduo. Além disso, como o objetivo nesta fase é exatamente “conhecer a linguagem”, convém que o professor administre muito bem a quantidade de ensaios a propor e o respectivo tempo de execução. Por enquanto, esqueça as correções técnicas. Considere que as tarefas não recaíram somente na administração de exercícios, mas também na “conquista” da comunidade, através de serviços voluntários de limpeza e lavagem do ginásio (mutirão) envolvendo os próprios alunos e suas mamães, o convite à participação de monitores, a aceitação de pequeninas crianças para brincadeiras paralelas e a recepção a jovens de outras comunidades.

Reflexão na ação
Creio que até então nunca se encontrou maneira confiável de realizar os objetivos propostos no planejamento de projetos. Todavia, tenho absoluta certeza que se houvesse continuidade neste tipo de trabalho criaríamos a possibilidade de identificar na prática caminhos para o desenvolvimento futuro na educação daquele grupo. Estivemos mostrando como aproveitar em “sala de aula” estes recursos potencialmente valiosos de aprendizagem e ensino, mesmo em condições não muito favoráveis, para as quais procuramos encontrar soluções e nunca nos queixarmos dos problemas. Para espíritos empreendedores as adversidades muitas vezes são desafios a serem transpostos. Naqueles momentos balizamo-nos em alguns princípios, utilizamos nossa intuição e experiência colhendo frutos virtuosos. Todavia, sabemos que temos muito a percorrer até encontrar o melhor procedimento.
Numa época em que muitos desafios e oportunidades novas surgem na educação, graças ao advento de novas tecnologias e subsídios computadorizados à aprendizagem e à instrução, achamos que vale a pena lembrar das dimensões sociais e interativas do crescimento e desenvolvimento humanos que a educação física e os desportos suscitam. Suspeito e concordo que os recursos mais preciosos para uso em “sala de aula” continuarão apresentando-se sob a forma humana.
O desenvolvimento de uma teoria eficaz do “ponto onde o aprendiz está” e a construção de uma “psicologia do assunto” que seja operável representam desafios formidáveis. Quando se está trabalhando com uma classe grande a combinação de ambas as teorias para saber qual o “próximo passo” a dar aparenta ser uma exigência impossível. Neste particular, o professor torna-se um privilegiado em relação ao técnico desportivo.

domingo, 8 de novembro de 2009

Lições de um projeto e perspectivas da aprendizagem


Interação social e comunicação - parte I

Projeto no Morro do Cantagalo
Período: novembro 1999 a janeiro 2000.
Local: Morro do Cantagalo, Rio de Janeiro. O ginásio do CIEP (escola pública municipal) foi equipado com cinco (5) miniquadras e 24 bolas de minivoleibol, podendo comportar confortavelmente até 50 alunos/aula.
Público alvo: crianças (8-9 anos), adolescentes e adultos (até 23 anos) de ambos os sexos, moradores de morros da Zona Sul.

Total de inscritos: 200. Atividade: minivoleibol
Coordenação de todo o trabalho durante 3 meses; 4 x semana; 3 aulas diárias.
Colaboradores: um professor e 2-3 monitores da comunidade.


Planejamento & Atuação
Tema pedagógico: metáfora do andaime
“Quando bem construídos, os andaimes ajudam a criança a aprender a ganhar alturas que elas seriam incapazes de escalar sozinhas”.

Proposta
Formação de liderança na comunidade para continuidade das ações.
a) Convite a moradores da comunidade para o papel de monitores/professores, independentemente de histórico desportivo.
b) Identificados na comunidade quem já praticava o desporto (clube, praia).

Metodologia
a) Instrução em grupo - nível de interação entre as crianças como facilitador do desenvolvimento dos exercícios.; reconhecimento dos benefícios quando o indivíduo é ajudado por outro que tem mais conhecimento e como este último pode ele mesmo beneficiar-se.
b) Instrução individualizada - capacidade de as crianças, enquanto aprendizes serem arquitetas da própria compreensão; capacidade de auto-correção e autoinstrução, individualizando a própria aprendizagem; importância da interação social, da comunicação e da instrução.
c) Criando a interação entre colegas - como e em que circunstâncias a cooperação e a comunicação levam à construção conjunta de conhecimento e compreensão entre crianças? Instrução em grupos; o professor e a capacidade de explorar as interações entre crianças para facilitar a aprendizagem (considere-se que trabalho em grupo pode produzir pouca atividade de aprendizagem dirigida); resolução cooperativa de problemas (exigência de técnicas de “combinação”, seleção de tarefas e incumbências, e administração do trabalho em grupo).

Mapa do território do aprendiz
A perspectiva que adoto solicita a interação, a negociação e a construção conjunta de vivências que habilitem a criança e o adolescente aprenderem a ‘linguagem’ proposta. Isso exige necessariamente, e sempre, um elemento de interdependência e a capacidade de fazer descobertas acidentais. A experiência me diz que certo grau de incerteza, a possibilidade de se deparar com surpresas e a chance de descobrir e resolver novas ambiguidades é o que impulsiona e motiva tanto o ensino quanto a aprendizagem. A única maneira de evitar a formação de concepções errôneas arraigadas é a discussão e a interação, lembrando que “no discurso matemático, uma dificuldade compartilhada pode tornar-se um problema resolvido”.

Pequenos grandes passos: teoria e prática
Vocês acompanharão na parte II dessas "Lições" os momentos em que buscamos soluções para unir a prática à teoria, um caminho que nos pareceu fácil de trilhar e que nos enriqueceu demasiadamente. Penso que a principal dificuldade a superar quando se ministra aula para grandes grupos é a comunicação: O que fazer? Quando fazer? Como fazer?
Optei uma vez mais pelo emprego do “princípio da aprendizagem ativa”.
Na próxima postagem revelarei meu procedimento prático e uma reflexão sobre as ações. E, claro, pequenas surpresas. Aguardem.

sábado, 31 de outubro de 2009

Escola, universidade, clube




Escola
Nosso sistema educacional ampliou o seu atendimento, mas pouco evoluiu do ponto de vista qualitativo. Continua produzindo alunos despreparados, que em todos os testes internacionais sempre colocam o Brasil nas últimas colocações. Mas seria diferente caso os estudantes recebessem qualidade e habilidades nos conhecimentos, o que incluiria a garantia de durabilidade. O esporte, do ponto de vista educacional, pode alavancar procedimentos bastante eficazes, inclusive solucionando outro problema crônico, a participação efetiva de agentes educadores da comunidade.
Multieducação - Em 1994, apresentei projeto à Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, cuja avaliação transcrevo a seguir. Não foi concretizado devido a problemas políticos: “Projeto interessante, rico pedagogicamente, que se coaduna com o Núcleo Curricular Básico Multieducação. A atividade básica é a prática do voleibol de uma forma mais lúdica. Neste sentido, há o favorecimento da participação de todas as crianças, não havendo uma submissão rígida à forma técnica do desporto, possibilitando-se assim a participação, independente da habilidade individual de cada indivíduo. Em suma, trata-se de atividade agregadora, cuja metodologia pode ser estendida a outros esportes”.
A Educação é sabidamente resistente à mudança e à inovação talvez por sua relutância em abrir-se à participação multidisciplinar. O setor geralmente é monopólio de poucos e um despertar de novas ideias é visto como uma invasão e, portanto, ameaça perigosa a direitos natos. Foi assim quando realizei minhas incursões em escolas e universidades. Proponho neste espaço democrático – a internet – a ampliação da discussão pedagógica visando à integração de linguagens que sintonizam todos com o tempo em que vivemos. É chegado o momento deste grande salto, faltam apenas criatividade e determinação. Vamos começar?
Questões metodológicas - Limitar o aprendizado de um esporte por repetição de modelos, decorar gestos ou movimentos prontos, não determina proficiência em esporte algum. Estaríamos adestrando e não estimulando o aprendizado. A lógica da criança não é a lógica do adulto. Construir os conceitos sobre um assunto compreendê-lo e agir sobre ele é, antes de tudo, anterior à etapa da verbalização. Ler e escrever, p.ex., são habilidades nas quais nos aperfeiçoamos bem depois da fluência oral.
Prática... No colégio devemos oportunizar a prática desportiva como recreativa. Assim, nos momentos vagos, nos recreios, os alunos poderão jogar e se divertir segundo as próprias regras. É desnecessária a presença do adulto. Além do que contribui para a prevenção da violência dentro da própria escola. O exemplo maior vem do Colégio Salesianos de Niterói.
Universidade – Em dez./2000 produzi demonstração do método na Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, cujo catedrático era o Professor e Mestre Luís Washington Cancela, meu companheiro de vôlei do Botafogo em 1973. A aula teve duração de 75 min, contou com a participação dos 45 alunos do Curso de Educação Física. A quadra oficial de vôlei foi dividida em três miniquadras e empregado farto material além de 24 bolas. Após o evento foi realizada uma avaliação da aula. Eram três temas dissertativos: atividades e destaques, metodologia e aspectos positivos/negativos. Eis o resumo: I – Atividades e destaques. Foram atribuídos pontos para os exercícios: Paraquedas (144 pontos); Tamancos (144); Biruta (120); Minivôlei (jogo,114); Bolas de tênis (96); Cones (78); Puçás ( 63); Jogo com Panos ( 39).II – Metodologia. “Iniciação com aspectos lúdicos evidenciados, representada por excelente CONVITE à criança. CRIATIVIDADE e PLASTICIDADE, aula rica em ideias, movimentação e material”.III – Aspectos: a) positivos - ludicidade, organização, dinâmica, motivação dos alunos; o jogo propriamente (minivôlei) e a riqueza do material; b) negativos - alunos sentados durante algum tempo (fora da aula). Obs: Cinco alunos foram dispensados da aula por impossibilidade física. Deve-se entender que o fato de não participarem frustrou-os dada a motivação de seus colegas.
Conclusão – A intenção foi conduzir o leitor para algumas observações vivenciáveis e que a maioria dos professores nas escolas trata como “problema” e os treinadores (nos clubes) brasileiros não conhecem. Percebam que a mesma aula pode ser realizada tanto na escola como no clube, independente do número de praticantes. O fator principal em ambos os casos reside na qualificação do professor, o material a empregar e na escolha da metodologia. Fala-se muito em problemas, dificuldades etc., mas nenhuma solução. Creio que encontrei uma delas. Por que não buscar outras?
Boa leitura. “O princípio básico da metodologia desenvolvida centra-se em como propor uma atividade à criança de forma que ela se sinta estimulada e desafiada, em constante interação, fazendo do esporte uma ferramenta útil às suas necessidades e desejos. Construir o vôlei (ou qualquer outro desporto) de forma eficaz, criativa e lúdica é, pois, a tarefa primordial do especialista ao se tratar de ensino do esporte. Entender como o pensamento se desenvolve desde o nascimento, entender que a criança fala porque pensa e não pensa porque fala, compreender para corresponder satisfatoriamente ao universo que realmente interessa à criança”.
Formação Continuada – Fui convidado a produzir aulas em cursos de atualização para professores em universidades do Rio sobre a Iniciação ao voleibol. No primeiro contato fui informado que seríamos dois os palestrantes e eu poderia fazer do modo como sempre realizei as aulas. Um professor sucederia o outro após breve intervalo de descanso. O interessante foi que percebi que o catedrático executaria as aulas como se estivesse num clube competitivo. Optei, então, em contemplar os colegas com uma boa e teatral exibição do que poderia ser uma aula no colégio. E assim foi. Não vou cansá-los com a descrição, mas, sem falsa modéstia, fui aplaudido pelo grupo ao final.
Em outra oportunidade, o tema foi o marketing no voleibol. Uma aula teórica em que apresentei oportunidades de receita para professores que necessariamente NÃO sabem e NUNCA jogaram uma partida de voleibol. A ênfase faz-se necessária devido ao fato cultural de que “voleibol é muito difícil de ser ensinado”, apregoado até hoje em nossas universidades. Ilustrei o grupo com projetos que vinha realizando na Praia de Icaraí (Niterói) para 400 crianças de 8-13 anos de idade. Por fim, marketing no voleibol me pareceu errôneo, talvez fosse mais apropriado oportunidades.
Atividades inteligentes e criativas - É fundamental que se leve em conta ao se planejar um curso para crianças, a psicologia funcional – interação humana. Saber, por exemplo, que necessidades a criança tenta satisfazer naquele momento da aula. Inicialmente, ela quer jogar ou brincar? O desconhecimento pedagógico pode transformar uma aula numa verdadeira tortura, levando ao trauma, à falta de estímulo, à frustração. Basta consultar o grupo feminino que, na escola, sofreu e se frustou com as aulas de vôlei. Creio que nem o jogo da queimada queiram jogar. E o pior, suas filhas passarão ou passam pelo mesmo desígno. Imagino que cada família tenha mais de um exemplo vivo do que digo.São nos pressupostos interacionistas (interação professor x aluno x aluno) que vamos buscar os elementos de consolidação da aprendizagem, permitindo, através desta interação, a criação de zonas de desenvolvimento proximal no aluno. Neste método, o ponto de partida é a prática social, que é comum a professor e aluno (interação). É neste momento que o professor, através de uma atividade proposta, com um conteúdo específico a ser trabalhado, interagirá com as crianças de tal forma que elas possam interiorizar a teoria através da prática. A partir desta prática social, o professor levantará junto aos alunos os principais problemas detectados: problematização, tendo em vista a instrumentalização que ele fará logo em seguida. O professor poderá pedir aos alunos que pesquisem entrevistas, livros; poderá também transmitir o conhecimento através do vídeo e outros meio que possibilitem a assimilação dos conteúdos.
Vivência. Certa feita, convidei-me e exibi para colegiais o filme sobre o treinamento japonês que levou suas equipes ao pódio olímpico em 1964 e em 1972. E as crianças adoraram minha tradução.
Clube, duelo notável – Um professor realizava treinos regulares para um pequeno grupo de alunas após o horário das aulas seguindo a metodologia que adoto. Um outro, que treinava igualmente grupo na mesma faixa etária, mas visando à formação de equipes para disputa de campeonato de voleibol no Rio de Janeiro, solicitou a realização de uma partida amistosa. Presenciei o jogo e pude retirar bons ensinamentos. As equipes se diferenciavam em todos os aspectos. De um lado, meninas descontraídas, alegres por estarem participando de uma brincadeira que, a cada ponto ou lance feliz, comemoravam com sorrisos e abraços. Do outro, seis meninas que mal se continham em pé, pateticamente abobalhadas, sem qualquer reação e olhos atentos ao treinador (seria adestrador?) como à espera de uma ordem ou assobio para fazer o que? Após a partida, o treinador perguntou: “Como conseguiu que sua equipe vencesse a minha, eu que treino várias vezes por semana, disputo campeonato oficial..."? O professor retrucou com leve sorriso nos lábios: “Pura sorte de principiante”. E saiu sem mais explicações.
Isto me fez lembrar idêntico diálogo em 1981, após uma partida entre as equipes masculinas do América F.C. e do Fluminense F. C. pelo campeonato carioca. Fernandão (vice-campeão olímpico, 1984) era o técnico do Fluminense, que me indagou ao final: “Roberto, não sei o que você fez com a sua equipe, mas se compararmos jogador por jogador, minha equipe é muitas vezes superior à sua. O que está acontecendo”? Deu-me vontade de dizer-lhe: “Pura sorte”!
Ainda neste mesmo ano, após o jogo amistoso que promovi entre o América e o Flamengo, exibi em plena quadra o mesmo filme do voleibol japonês para as equipes e público presente. Foi um sucesso!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Professor ou treinador?


Aulas no Fluminense F. C. (continuação)
No final da década de 70, “convidei-me” para realizar algumas aulas para o Bené, no Fluminense, no ginásio de baixo, como era conhecido o local em que realizava os treinamentos de mirins e infantis. Fronteiriço, uma outra quadra servia aos treinos de basquete. Ao lado, e um pouco mais acima, o antigo ginásio, onde foram realizados os primeiros Jogos Sul-Americanos, em 1951, treinavam os infanto juvenis.
Levo sempre o material pertinente: 4 mini redes, 50 bolas de tênis, bolas (bexigas) plásticas coloridas etc. Inicialmente, o grupo estava composto de 16 crianças que me foram apresentadas e, a seguir, demos início à aula: naquele espaço, somente eu e os jovens atletas. Com o desenvolvimento dos trabalhos, aconteceu algo inédito no clube: inúmeras pessoas se aperceberam de que havia algo diferente naquele local e, curiosos, acorreram para se inteirarem. O treinamento do ginásio principal também foi interrompido por instantes para que todos se certificassem do que ocorria lá embaixo e Bené percorria as instalações próximas para conclamar as pessoas a verem o que ocorria. Não cabia em si de contentamento. De minha parte, muito discretamente e sem muito esforço, simplesmente propunha aos meninos tarefas que se sucediam com intervalos mínimos. Apenas sugeri-lhes que deveriam fazer a algazarra que quisessem. Foi uma grande bagunça, isto é, gritaria e muito divertimento durante todas as demais sessões.
Quando propus jogos nas miniquadras, um outro fato chamou-me a atenção: alguns atletas do ginásio principal– infanto juvenis – desceram e se me apresentaram solicitando participar dos jogos de duplas, no que foram imediatamente atendidos. E até me desafiaram para a competição. Penso ter dado o meu recado e vendido meu peixe!

Um espetáculo imperdível!
Como mencionado, estava convencido de que o Bené precisava de pequena ajuda para ampliar o seu leque metodológico e, consequentemente, seus resultados. Felizmente, não o decepcionei, pois nunca vi Bené tão feliz na vida. E não só ele, uma vez que houve paralização de outros treinamentos para que todos pudessem constatar o que estava ocorrendo. O treinador do basquete, Professor René, que interrompera sua aula, aproximou-se para comentar: “Só podia ser você”! Os pequenos atletas logo esqueceram o estranho que ali se infiltrara e deixaram-se contagiar de alegria contagiante extravasada em sonoros ruídos e gritos. A plasticidade, variedade de material e a sequência correta de exercícios compuseram um espetáculo que em dado momento tendia para teatral e, em outro, circense, tamanha a espontaneidade que aflorava naquelas faces infantis. E mais: com a continuidade, Bené não se conteve e percorria rapidamente outras dependências do clube – o ginásio principal, o bar da piscina – a congregar outros indivíduos para que viessem presenciar o verdadeiro espetáculo de uma aula para crianças. O Fluminense parou por instantes e os juvenis, que treinavam à parte, vieram se juntar à criançada e, também eles queriam participar daquela saudável brincadeira. Foi difícil terminar a aula naquele dia... Ufa!
Alguém me perguntou quantas crianças estavam ali reunidas. Não me recordo, pois às primeiras 16, juntaram-se outras, mais velhas. Mas como já realizei aula para 64 individuos – 9 a 22 anos de idade – num mesmo instante, não encontrei a mais mínima dificuldade.
Lições – Tenho estado consciente de que as discussões sobre as necessidades e problemas das crianças em diversos estágios de desenvolvimento e aprendizagem comportam implicações cuja realização é difícil, senão impossível, dado o estado atual do conhecimento e as circunstâncias que prevalecem em nossas escolas. Por outro lado, quando sabemos algo sobre essas coisas (e ainda há muito a ser descoberto), a colocação dessas experiências favoráveis a serviço de grandes grupos de crianças é uma tarefa que posso dizer de cadeira, formidável. Assim, desenvolver a capacidade de observar e interagir com uma criança afim de descobrir o que ela sabe, pode fazer e compreender é algo que exige tempo, conhecimento e habilidade consideráveis. E imagino que se algum dia for efetivamente professor de um grande grupo estarei apto para reconhecer o potencial de desenvolvimento de cada um de meus alunos. Esta certeza advém da metodologia que recomendo.
Ajuda, quem precisa? – Quando indagava ao Bené para que fizesse uma análise individualizada dos pequenos atletas, dizia-me: “Aquele ali é um espetáculo! O outro, lá, ainda tem muito que aprender, mas vai chegar lá”! Percebia que só destacava os mais eficientes (precisavam de pouca ajuda para se desenvolver). Então, instigava-o: “E aquele lá, que erra a todo instante”? Respondia-me sem pestanejar: “Ele é muito burro, mas a gente dá inteligência para ele”!
Construtivismo – Entre tantas contribuições, destaca-se a capacidade das crianças enquanto aprendizes e arquitetas da própria compreensão. No decorrer do processo educativo, observam-se fenômenos como a capacidade infantil de auto-correção e autoinstrução, que dão credibilidade à concepção das crianças como agentes do próprio desenvolvimento.
Um caso de sucesso - No Colégio Salesianos de Niterói (RJ), foi dada esta prerrogativa aos alunos nos momentos vagos e de recreio. Engendrei a colocação de 13 mini campos de voleibol à sua disposição e eles mesmos organizam as atividades, as regras, direito a jogar, escalonamento de turmas e, inclusive, as próprias competições. Professor não participa!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Metodologia do treinamento para crianças

Equipe pentacampeã infantil do Fluminense, com destaque para Bernard (12), que viria a ser vice-campeão olímpico em 1984 junto com outros tricolores – Fernandão, Badalhoca e Bernardinho.
Bené, Piaget e Vygotsky, em comum o que têm os três? São falecidos, mas teriam jogado na mesma equipe?

À primeira vista pode parecer estranho acomodar num mesmo artigo esses três nomes. Para aqueles que são do ramo devem estar se perguntando, “quem são esses dois estrangeiros”? No início de suas atividades Bené sofreu preconceito: era negro, baixo e vestia-se quase sempre espalhafatosamente. Nascido em Friburgo, cidade serrana do Estado do Rio, cedo foi adotado e veio com a família morar em Copacabana. Após uma década de dedicação voluntária em Niterói, foi acolhido no Fluminense F. C. levado por Arlindo Lopes Corrêa em 1959-60, e ali realizou um dos melhores trabalhos com iniciantes. Por suas mãos passaram quatro medalhistas de prata nos Jogos Olímpicos de 1984: Fernandão, Badalhoca, Bernard e Bernardinho. Como teria ele conseguido tamanho resultado, quando se sabe que não cursou escola, universidade, ou qualquer curso de voleibol?
Breve história - Conheci-o em 1951, aos 11 anos, promovendo treinos na vila onde morava, em Niterói. Aos 18 anos convidou-me para atuar no Clube Gragoatá, minha primeira experiência como atleta. A seguir transferi-me para o Botafogo. Bené teve rápida e tumultuada passagem pelo alvinegro e fixou-se em seguida no Fluminense. Os anos se passaram e vez por outra visitava-o em sua nova casa e indagava por seus discípulos ou, como gostava de chamar, beneditinos. Em 1965 fui técnico das equipes femininas do tricolor convivendo um pouco mais com ele. Sempre estive intrigado e me perguntava o que tornava tão diferenciada sua metodologia dos demais treinadores. Concluí que era não só o jeito de lidar com os pequenos atletas, mas também a forma de treinar, isto é, insistentemente procurava colocar os meninos em situação de jogo, o que lhes acrescentava desenvolvimento tático eficaz e criativo. As crianças treinavam – e jogavam – com alegria, tinham orgulho de pertencer àquela equipe e estar ali com ele. Enfim, confiavam nele. E com o passar dos anos colecionaram muitos títulos. O que lhe faltava em estudo, sobrava-lhe em intuição, resultado de uma vida desapegada e consagrada ao voleibol.
Seu entendimento quanto à forma de treinar pareceu-me bastante piagetiano, uma vez que proporcionava aos pequenos atletas oportunidades de criarem soluções e novas formas de comportamento diante de situações inusitadas. E fazia grande diferença nos embates, pois, do outro lado, os adversários quando colocados à prova, voltavam seus olhos para o treinador à busca da solução (vivências) que não tinham no seu repertório.

A educação no comportamento emocional
Os gregos diziam que a filosofia nasce da surpresa
O jogo coloca o indivíduo numa situação emocionalmente delicada. E pode-se indagar: “Que repercussões isso terá na vida dele?” Seguramente, se bem usado, é o melhor caminho para uma educação de qualidade. São muitas as situações de jogo. Vamos focar o atleta que, de repente, tem que encontrar uma solução rápida para determinada circunstância. Como funciona esse mecanismo na mente humana? Nesse momento faço um pedido de tempo para colocar em campo um dos meus melhores conselheiros, o russo Lev Semenovitch Vygotsky: “Consideram-se as emoções como um sistema de reações prévias, que comunicam ao organismo o futuro imediato do seu comportamento e organizam as formas desse comportamento. Abre-se, então, para o pedagogo, um meio sumamente rico de educação dessas ou daquelas reações. Nenhuma forma de comportamento é tão forte quanto àquela ligada a uma emoção. (...) As reações emocionais exercem a influência mais substancial sobre todas as formas do nosso comportamento e os momentos do processo educativo. A experiência e estudos mostraram que o fato emocionalmente colorido é lembrado com mais intensidade e solidez do que um fato indiferente”.
Lembremo-nos da técnica empregada em cursos para executivos de empresas que obedecem aos mesmos princípios quando se colocam os indivíduos em situações de risco – arvorismo, tirolesa, bungee jump, montain biking, paraquedismo – para que experimentem emoções máximas e, mais à frente, tenham capacidade para enfrentar novos desafios em suas decisões funcionais, e mesmo de vida. Daí o poder excepcional que têm sobre a educação dos sentimentos o desenvolvimento e a administração dos movimentos conscientes. Sua prática exercita o corpo e a mente, desenvolve o equilíbrio interior, além de aliviar o estresse diário. Para aprender a tomar uma decisão deve-se considerar a emoção e o interesse, ponto de partida para qualquer trabalho educativo. O aspecto emocional do indivíduo não tem menos importância do que outros aspectos e é objeto de preocupação da educação nas mesmas proporções em que o são a inteligência e a vontade. Mais adiante, imaginei que lhe faltava algo que talvez eu pudesse acrescentar. Pedi permissão para mostrar-lhe uma nova concepção de treinamento. Precisaria de não mais do que três ou quatro aulas. Pedido feito, pedido concedido.
Metodologia – Para alcançar um ensino de qualidade calquei-me no princípio – aprender brincando e jogando – herdado do professor alemão Gerhard Dürrwächter e confirmado por Vygotsky: “A brincadeira, o melhor mecanismo educativo do instinto, é ao mesmo tempo a melhor forma de organização do comportamento emocional. A brincadeira da criança é sempre emocional, desperta nela sentimentos fortes e nítidos, ensina-a seguir cegamente as emoções, a combiná-las com as regras do jogo e o seu objetivo final. A brincadeira constitui as primeiras formas de comportamento consciente que surgem na base do instintivo e do emocional. É o melhor meio de uma educação integral de todas essas diferentes formas e estabelecimento de uma correta coordenação e um vínculo entre elas”.
Muni-me de material específico – quatro mini redes, bolas de tênis (50), bolas coloridas (bexigas) etc. Dei início à aula cercado de tensa expectativa por parte do meu alvo principal – Bené – tendo percebido também algum burburinho entre as crianças, naturalmente pelo fato inusitado de um estranho ter-se colocado entre elas e seu famoso treinador (ele jamais permitiria isto a um outro). Em relação ao desenvolvimento da aula fiquei devendo uma explicação ao Bené, mas tive a clara impressão de que não seria necessária, tal o seu entusiasmo. Além disso, não faria qualquer diferença saber sobre a zona de desenvolvimento proximal que, aliás, poderia ser interpretada como outro local. Falarei sobre isso no próximo artigo e, evidentemente, sobre a repercussão das aulas. Aguardem.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Educação com Qualidade


Missão

Meu compromisso é apresentar sempre a melhor seleção de matérias para instruir e aperfeiçoar as habilidades requisitadas a um bom professor. Sejam análises mais aprofundadas de ferramentas e técnicas para o seu trabalho, ou aulas criativas que despertem nas crianças o gosto pela atividade. Cuidarei para que as informações sejam precisas e úteis. Neste particular, conto com a sua interação para conhecer suas dificuldades. A partir de sua adesão imagino quão rico será nosso convívio e prometo-lhe que estaremos nos divertindo trabalhando, tanto quanto me divirto escrevendo os textos. A distância, que a princípio poderia constituir-se um entrave, certamente nos enriquecerá com a diversidade de situações em diferentes regiões do Brasil. Além disso, poderemos construir juntos um projeto com sugestões para você crescer e despontar na sua comunidade como agente empreendedor criando o seu próprio negócio. Outros já seguiram este caminho e não se arrependeram, pois lhes acrescentou, inclusive, renda.

Curso de Formação Continuada
Uma proposta criativa e gratuita de quem ainda crê no professorado. Você mesmo pode criar um programa para sua escola ou tornar-se um empreendedor na sua comunidade. Conheça as vantagens do Minivoleibol e sua prática na escola. Estaremos juntos na difícil tarefa de transposição da teoria para a prática. Neste processo vamos estimular a criatividade para aprender a ensinar, realizando a inclusão - todos participam - brincando e jogando a partir da 1ª aula. Além disso você aprenderá a criar os próprios exercícios com seus alunos. Finalmente, vez por outra, uma pitada sobre a História do Voleibol no Brasil e a Evolução das Regras.
O que está esperando...?







quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Ensinar é uma arte



Foto: Visita de Bené, Bernardinho e Tabach ao Projeto Mini Voleibol do Prof. Roberto Pimentel, Praia de Copacabana, RJ, 1995.

Este blog está colocado à sua disposição para trocarmos ideias. Minha intenção é compartilhar conhecimento e experiências com todos aqueles que se interessam pelo ensino dos desportos, especialmente o voleibol. Se necessitar indagar algo, tirar alguma dúvida ou mostrar suas atividades manifeste-se, entre em contato.

A divulgação da interpretação de fatos que vivenciei ao longo dos anos será tratada à luz da psicologia pedagógica e compartilhada com todos. Nesta ação espero diagnosticar as necessidades de cada aprendiz – professor ou aluno – e como atendê-las depois de descobertas. Em alguns momentos de reflexão fico a pensar se tais exigências podem ser consideradas realizáveis quando um único adulto tem a obrigação de atingir metas a serviço de vinte, trinta e, até mesmo milhares de crianças.
A ideia inicial recaiu após minha leitura do trabalho de alguns estudantes portugueses sobre G. Pólya. Ele nos leva a pensar no significado de certos conceitos e nos convida a ilustrá-los concretamente com base na nossa própria história. Como você neste momento também participa desta conversa, aguardarei sua opinião e assim, juntos, passarmos a compartilhar novos conhecimentos em auxílio à “arte de ensinar”.
George Pólya (1887-1985
) foi um matemático húngaro. Não é sempre que um grande matemático se interessa pelos currículos e pelos métodos de ensino da matemática no ensino secundário. A esse respeito, Pólya é quase uma exceção. Daí o interesse das traduções de dois célebres textos sobre o ensino da matemática: How to solve it (1945) – em que nos diz como resolver problemas de todos os tipos, mesmo os que não são de matemática – e o capítulo XIV do livro Mathematical Discovery (1962-64). As traduções foram realizadas por Elisa Mosquito, Ricardo Incácio, Teresa Ferreira e Sara Cravo. A revisão, por Olga Pombo. Peço permissão aos pesquisadores portugueses que me proporcionaram conhecer parte do pensamento de Pólya para estabelecer um pretenso diálogo construtivo com professores brasileiros a respeito do ensino do desporto em geral e a prática escolar. Àqueles que me honram com a sua leitura, minhas desculpas por estar falando na primeira pessoa, a intenção é relatar experiências e, em contrapartida, “ouvir” o que têm a me contar.

Educar é contar histórias?
Nas páginas que se seguem realizo uma digressão pedagógica aplicável a qualquer desporto, especialmente o voleibol, minha praia. Para os que julgarem pertinente, sirva este diálogo com Pólya (e outros mestres) de transposição para um ensino mais eficiente, original e criativo. Assim, considerem essas histórias apenas e acerca da minha experiência e opinião. Estarei aguardando suas considerações.