quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz Ano Novo

Aos
Aos amigos, seguidores e leitores, um Feliz Ano Novo repleto de felicidades. Que o Menino Jesus abençoe seus lares, são os votos de Roberto Pimentel e família.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Lesões e receitas de treinamento no voleibol

Duas manchetes despertaram-me a atenção recentemente logo após ter realizado uma intervenção no blog do Arlindo Lopes Corrêa a respeito de lesões no voleibol. Vejam as notícias em ordem cronológica de postagem:
Com 2,01 m, cubano de 15 anos vira "estrela" na Liga Mundial (24.7.2009)
“O vôlei ganhou um menino prodígio. Com apenas 15 anos e 2,01 m de altura, o cubano Wilfredo Léon Venero é um dos destaques da Liga Mundial, e no momento lidera a estatística de melhor pontuador da fase final da competição. (...) Sempre jogou em categorias superiores a sua idade e com 14 anos estreou na seleção adulta”. (Internet)
Marcel Gil: o gigante português
Existirem jogadores brasileiros de voleibol com mais de 2 metros não é surpresa nenhuma. Agora, que um dos dois atletas mais altos do Campeonato Nacional seja português, aí sim é surpreendente. Marcel Gil, de 19 anos, ostenta esse protagonismo na competição e com 2,05 m só há mais um jogador: o brasileiro Gilson França, do V. Guimarães. (
www.sovolei.com/; 7.11.2009)

Acompanhem alguns trechos de nosso diálogo:
Blog do Arlindo - Durante alguns anos Nalbert foi, nas quadras, talvez a peça mais importante da vitoriosa seleção brasileira de voleibol. Aos 28 anos, porém, sofreu lesão dos tendões e operou os dois ombros, resultado da fadiga causada pelo ritmo de jogos/treinamento a que estão submetidos os atletas de hoje. Nossa seleção perdeu prematuramente um de seus principais astros de todos os tempos. Nalbert tentou voltar ao voleibol indoor, Bernardinho incentivou-o, mas não deu para manter o nível qualitativo habitual de seu jogo e o jeito foi resignar-se ao voleibol de praia.
Roberto Pimentel - Há muito, em conversa com professor e técnico influente no voleibol de alto nível, indaguei sobre a prevenção de lesões ocorridas em atletas de nossas seleções principais, pois também me preocupava que não houvesse um estudo sobre o assunto. A impressão que me foi passada foi: 1) as mazelas seriam varridas para debaixo do tapete, não deveriam aparecer; 2) a moderada atividade física realizada em salas de musculação seria suficiente para prevenir lesões; 3) os atletas já chegavam à seleção lesionados, atribuindo-se velada culpa ao procedimento nos clubes de origem; 4) não havia tempo para sua recuperação.
Ao longo da história de nossas seleções tivemos conhecimento dessa prática. Com certeza, os técnicos, ou eram pressionados, ou aplicavam o dito popular, “ruim com ele, pior sem ele”. Foi assim nas Olimpíadas de 1964, quando viajaram somente 10 atletas, sendo que pelo menos um deles lesionado e durante os jogos, ficaram reduzidos a 6 atletas. O fato se repetiria vinte anos depois nas Olimpíadas de Los Angeles. Os interesses falavam muito mais alto do que o zelo pela saúde. Algum tempo depois, um jovem atleta (Shanke?) da seleção brasileira saiu da quadra em pleno jogo e foi levado diretamente para cirurgia de mão com problemas de circulação sanguínea. Afastou-se do voleibol.
Medicina esportiva
Encontrei algumas referências sobre estudos de lesões no voleibol, a partir de trabalhos acadêmicos (não sistemáticos) na internet. Percebo que a chegada do fisioterapeuta às quadras e à praia é recente e, ainda, pouco sedimentada a ponto de influir na metodologia do treinamento. Os técnicos, com a responsabilidade de “fazer ganhar” suas equipes, têm prevalência nas decisões e pouco (ou nenhum) conhecimento sobre como prevenir lesões. No vôlei de praia quem assume toda responsabilidade é o próprio atleta, pois é o patrão. Mas existe um perigo ainda maior. Atenta à orientação que deva ser proporcionada a crianças e adolescentes na prática de atividades físicas, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) criou desde 2003 o Grupo de Trabalho em Pediatria e Medicina Desportiva (
www.sbp.com.br/). Esse grupo conta com a participação das Sociedades de Cardiologia e Traumato-Ortopedia e já produziram dois manuais abordando tópicos diversos para uma boa anamnese e exame posterior detalhado do indivíduo. Foi editado pelo SBP em parceria com o Ministério do Esporte o “Desafio de Chande”, uma versão para crianças daqueles manuais. Finalmente, o tema tem sido discutido em eventos científicos. Falta maior divulgação e, espera-se, que os responsáveis pelos treinamentos/aulas leiam e façam bom uso.
Receitas de treinamento
Muitos julgam que treinar muitas horas por dia é o melhor meio de superação dos adversários. Um dos seus aspectos negativos é a intensidade dos treinamentos. Esta concepção herdamos a partir de 1982, com a competição travada entre Bradesco (Rio) e Pirelli (S. Paulo). Era uma febre de treinamentos e viagens, com os atletas à disposição da seleção aproximadamente 9 meses. Sem isto, dizia-se, seria impossível superar as equipes de ponta no cenário mundial, representadas pela URSS e EUA, esta última campeã olímpica em 84, beneficiada como o Brasil, pelo boicote dos países socialistas ao evento. Como nesse país nada se inventa e tudo é copiado, a mídia se encarregou de difundir esse cenário, que se tornou crença, de que quanto mais treinar, melhor. Puro sofisma. Os “neoprofissionais” de plantão nunca aventaram para o detalhe que reputo mais importante em qualquer treinamento: a QUALIDADE. Além, é claro, do “ócio criativo”, isto é, os intervalos convenientes para reposição de ingredientes indispensáveis à saúde – física e mental – do indivíduo.
A este respeito, vejam o comentário de uma professora de Educação Física ao ler um trabalho pedagógico de minha autoria em que relato algumas experiências no treinamento do voleibol: “Uma citação (na obra) me faz lembrar um trecho de Aristóteles que o Bernardinho colocou no livro dele: Nós somos aquilo que fazemos repetidas vezes; a excelência, portanto não é um feito, mas um hábito!” Podemos, então, deduzir que o Bernardo Rezende (Bernardinho) é ferrenho defensor da REPETIÇÃO. Como se trata de técnico vitorioso, consagrado, pode-se concluir que a sua metodologia é a mais adequada e, portanto, deveria ser adotada. Mas, seria esta realmente a melhor forma de se atingir a EXCELÊNCIA?

O que acham?

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Técnicas de Ensino do Voleibol

Pedagogia do exercício - Repetir exercícios - Educação do comportamento emocional - Treinar com qualidade - Progressos e novas exigências - Aperfeiçoamento técnico - Esforço e satisfação.

Pedagogia do exercício (para qualquer desporto)
No Brasil, e penso que em muitos países, o ensino de qualquer desporto continua encontrando as mesmas dificuldades de outrora, isto é, sabe-se mais a respeito das técnicas de execução dos gestos, das táticas a empregar, de quase todos os ingredientes científicos, mas pouca atenção se dá – diria que nenhuma – aos primeiros aspectos da formação dos futuros praticantes. Defino “futuro praticantes” aqueles indivíduos de pouca idade que se propõem a aprender algum tipo de esporte para o seu lazer e, quiçá, até como profissão.
Repetir exercícios
Em voleibol, como em qualquer outro desporto, o embasamento teórico está voltado para que as respectivas técnicas de execução dos gestos – as habilidades motoras específicas – devem ser aprendidas, aperfeiçoadas e exaustivamente treinadas. Entretanto, essas habilidades motoras atuam em consonância com uma outra componente, a educação dos sentimentos ou do comportamento emocional.
Educação do comportamento emocional
“Educar sempre significa mudar”. Se não houvesse nada para mudar não haveria nada para educar. Que mudanças educativas devem realizar-se nos sentimentos? Todo sentimento é um mecanismo de reação, ou seja, é certa resposta do organismo a algum estímulo do meio. Logo, o mecanismo de educação dos sentimentos é, em linhas gerais, o mesmo para todas as demais reações. Estabelecendo estímulos diversos sempre podemos fechar novos vínculos entre a reação emocional e algum elemento do meio. A primeira ação educativa será a mudança daqueles estímulos com os quais está vinculada a reação. Qualquer pessoa sabe que o que nos causa medo na infância não nos causa depois. Aquilo que provocava pavor e assustava deixa de ser perigoso. (Vygotsky)
Treinar com qualidade
Pode ocorrer que o que se está propondo fazer não é o melhor para o indivíduo, invariavelmente, um padrão de comportamentos estereotipados, “receitas técnicas”, ou como dizemos por aqui, “receitas de bolo”. Quase sempre não há diálogo entre professor e aluno, o que acarreta uma simples imposição dos exercícios, tornando uma repetição cansativa que invariavelmente leva ao cansaço e ao descaso. Despertar o interesse do indivíduo por uma tarefa é torná-lo corresponsável por ela, senão o único a executá-la, corrigir-se até que atinja a perfeita técnica da sua execução. Este deve ser o seu objetivo e prêmio: aperfeiçoar-se e descobrir novos desafios. Assim, treinar com nível de exigência definido e acessível é diferente de “repetir exercícios”, onde o nível de exigência é quase sempre relegado. Destacam-se dois aspectos:
- O indivíduo não é levado a pensar para decidir sobre a nova situação.
- Sendo repetitivos, tornam-se exaustivos.
Progressos e novas exigências
Isto tem um significado pedagógico: todo caso de plena satisfação com os resultados acarreta certas mudanças no mecanismo nervoso da adaptação. Sugere que apenas uma simples repetição ainda não assegura o momento do êxito, uma vez que só a execução “bem sucedida” de alguma ação propicia a formação da organização desejável no sistema nervoso central. Se o mesmo movimento se repete a cada instante, a exaustão leva a resultados insatisfatórios que impedem diretamente a formação de novos caminhos de menor resistência. Este pequeno grande detalhe nos leva a tergiversações infindáveis. Todos já devem ter assistido em cursos ou treinamentos de adultos a aplicação de inumeráveis exercícios objetivando este ou aquele elemento do jogo, implicando um ou mais jogadores, numa sequência às vezes variada de movimentos repetitivos. Por exemplo, assistindo um dos treinos de seleção brasileira (não me recordo o ano), analisei a sua construção e o seu objetivo. Era um treino de defesa individualizado para jogadores que, invariavelmente, ocupam a mesma posição ou área da quadra (I e II). No caso em questão tratava-se de atletas especialistas em ataques de “saída de rede”. Eram dois que se revezavam a cada ciclo de cortadas produzidas por três auxiliares situados no outro campo, posicionados sobre uma mesa; cada um deles nas posições de ataque convencionais. Invariavelmente, os “ataques” se sucediam em profusão, mas em constante monotonia, o que me pareceu comprometer a validade (qualidade) dos exercícios. Acertos ou erros, especialmente estes, não tinham o necessário diálogo entre treinador e atleta. Assim, cumpriu-se o ritual do treinamento, mas não creio que aqueles dois indivíduos tenham acrescentado qualquer aspecto de desenvolvimento no quesito defesa. Mas saíram bem cansados e, pior, certamente teriam que repetir a mesma coisa nos dias seguintes. A meu ver, não acrescentaram nada ao seu cabedal técnico que, com certeza, não incluía saber defender. Lembrei-me do saudoso Adolfo Guilherme (Minas T. C.), que em 1966 à beira da piscina do Grêmio Náutico União, de Porto Alegre, me dizia após nosso jogo pelo campeonato de clubes campeões: “Não sei o que vocês de Niterói fazem (treinos), mas sempre encontramos muitas dificuldades para levá-los de vencida; como defendem”! Uma de nossas vantagens sabia ele, é que atuávamos impreterivelmente duas vezes na semana no voleibol de praia de forma descontraída e moleque.
Esforço e satisfação
Num dos capítulos consagrados aos exercícios, Vygotsky analisa o tema em epígrafe e indica uma das regras psicológicas de importância: o exercício só é plenamente bem sucedido quando acompanhado de uma satisfação interior. E vai além, afirmando que de outro modo se transformaria numa cansativa repetição, contra a qual se rebela o organismo. Em suma, “o esforço coroado de êxito, eis a condição mais importante para se avançar”.
Nas minhas práticas foi assim que procedi ao construir meus exercícios quando treinava solitariamente: tinha-os como verdadeiros desafios a serem conquistados com muita obstinação e esforço, plenamente recompensados. Nos treinamentos que realizei no América F. C., no Rio de Janeiro, e na Praia de Icaraí quando treinava atletas de Vôlei de Praia, imagino ter sido os momentos mais criativos de minha carreira de treinador. Exigia individualmente o cumprimento de todas as fases do exercício, especialmente o “ritmo”, o que importava em repetição desde o início se houvesse algum deslize no seu desenvolvimento. E, detalhe, os companheiros não envolvidos acompanhavam toda a execução, apoiando e incentivando. Os exercícios tinham verdadeira produção teatral, ricos em plasticidade e descontração, traduzidas na alegria e satisfação dos indivíduos, inclusive, gerando plateia. Há alguns anos encontrei-me com um deles (em 1981 tinha 18 anos), que me agraciou com uma declaração demasiadamente generosa ao apresentar-me ao amigo: “Este foi o melhor e maior técnico que já tive”. Valeu a pena! Creio que na fase adulta de sua vida deve estar colocando em prática tudo que emocionalmente vivenciou naqueles tempos. Este é o verdadeiro campeão que buscamos!
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A seguir estarei comentando alguns temas pouco abordados e, por isso, bastante difíceis. Creio que ao compartilhar, opinar, sugerir temas, todos poderemos nos locupletar. Vejam algumas proposições e, se for o caso, coloque o assunto do seu interesse imediato: 1) Será que certas tentativas de ensinar as crianças fracassam porque as técnicas de ensino utilizadas são fracas? 2) Como avaliar a qualidade dos estilos de ensino utilizados? 3) Que critério usaremos para caracterizar o sucesso? 4) Como definir a instrução eficaz? 5) Como e quando as crianças generalizam o que lhes é ensinado, aplicando-o a outros problemas?
Aguardem.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Mini voleibol no Brasil



Mini voleibol no Brasil (parte II)

CRONOLOGIA
1974 - Primeiro contato do autor com o mini vôlei, curso em Recife (PE), Sesi Nacional. Curso no Sesi, em Santo André (SP).
1975 - 1° Simpósio Mundial, em Ronneby, Suécia, com a participação do Autor, que realizou palestra sobre o emprego do jogo de peteca na iniciação ao vôlei. Nesta palestra o intérprete foi o Sr. Rubén Acosta H., à época, vice-presidente da FIVB.
1976 - Autor participa do lançamento do mini vôlei em Congresso Técnico do Campeonato Brasileiro de Vôlei Masculino, Florianópolis (SC). Proposta do SESI Nacional à CBV de formação de um setor que gerenciasse e incrementasse o mini vôlei no País. Era diretor-técnico da CBV Ary da Silva Graça Filho, que aventou o nome de Heckel de Miranda Raposo para o cargo.
1978 - Autor encaminha projeto de mini vôlei para a CBV.
1981 - Aulas de apresentação do mini vôlei no Curso de Técnica da UERJ, Rio, sendo titular o Professor Paulo Matta.
1984 - Autor é convidado especial ao 1° Simpósio Nacional de Mini Vôlei, Buenos Aires, Argentina. Autor realiza a 1ª Clínica de Mini Vôlei na AABB, Rio de Janeiro, com participação de Nuzman (CBV), Delano (FMV), Paulo Matta (UERJ), Célio Cordeiro (UGF) e Paulo Márcio (supervisor técnico da CBV).
1988 - Autor apresenta projeto à CBV para produção de Festival (dez mil crianças) na praia durante o Mundial de 90, no Rio.
1990 - Palestra sobre mini vôlei na Escola de Educação Física do Exército para o Curso de Instrutores de Educação Física.
1991 - Clínica de mini vôlei na praia para 1.200 crianças, simultaneamente, em Fortaleza, Recife, João Pessoa e Niterói, com apoio da Secretaria de Esportes da Presidência da República (Zico) e da CBV (Nuzman).
1992 - Livre iniciativa do Autor com a produção de cursos regulares na praia de Icaraí, Niterói, duração de cinco anos, com aulas para até 400 alunos.
1995 - Cessão de material para Bernardinho, no Centro de Excelência “Rexona” – Curitiba (PR) . 1ª Clínica de minivôlei na praia de Copacabana, Rio, com a Fundação Rio Esportes, 300 alunos.
1996 - Autor lança site na Internet: www.urbi.com.br/users/pimentel
1997 - Autor é convidado para coordenador–técnico da CBV para programa de iniciação com mini vôlei (Vivavolei) .
1998 - 1° Festival de Mini Vôlei, 108 escolares do Rio e de Niterói, com permissão da FIVB, após Brasil x Rússia, Liga Mundial, Maracanãzinho. Autor realiza “aulas-demonstração” do método em dezenas de escolas do Rio e Niterói. Feira Olímpica, “Um Dia na Praia”, mini vôlei em Copacabana, COB, 300 crianças.
1999 - Programa Prospecção de Talentos – com base nas “impressões digitais” – é entregue ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB), produzido pelo Autor e o Doutor Professor José Fernandes Filho.


Autor realizou aulas de demonstração do método na Universidade Gama Filho (3 aulas), na UFRJ (2 aulas) e na Universidade Estadual de Santa Catariana - UDESC (2).

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Minivoleibol no Brasil

1° SIMPÓSIO MUNDIAL
Global Minivolleyball Symposium–FIVB
O Simpósio foi realizado na cidade de Ronneby, ao Sul da Suécia, em julho de 1975, durante seis dias. Teve o apoio da Federação Sueca de Voleibol e contou com considerável número de participantes, entre eles, dois brasileiros: o professor Roberto Pimentel e Walderbi Romani, ex-técnico da seleção brasileira e do Paulistano (SP). Tive os custos da viagem patrocinados pelo SESI – Departamento Nacional, à época de Otto Reis e Silva na chefia do programa de iniciação daquela entidade, enquanto que Walderbi representou a CBV como integrante do Conselho de Treinadores. Na programação apresentada pela FIVB e sueca constavam vários temas a serem debatidos e algumas atividades práticas. Após o retorno, o SESI-Nacional fez proposta de convênio com a CBV no sentido de realizarem conjuntamente estudos e programações pertinentes. Foi criada uma comissão de professores do SESI de Santo André (SP), do qual faziam parte o próprio Walderbi e entre outros, José Brunoro. Pelo SESI Nacional, o professor Roberto Pimentel. Esta Comissão realizou um estudo contendo várias sugestões encaminhadas à CBV. De prático, resultou no lançamento “oficial” do mini voleibol para o País no congresso técnico do campeonato brasileiro masculino, em Florianópolis, em 1976. A CBV, através do então diretor-técnico, Ary da Silva Graça Filho, propôs o nome do Sr. Heckel Raposo para presidir a futura Comissão de Minivoleibol que se formaria a seguir. Contudo, alguns impasses de ordem política foram colocados pelo grupo paulista, o que resultou no malogro de todo o trabalho. O SESI Nacional, através de seu representante Roberto Pimentel, retirou-se do convênio e encerrou sua participação, tendo dado continuidade à difusão do minivoleibol por sua própria conta e risco, através dos Cursos de Iniciação que programava duas vezes ao ano em suas sedes Regionais, especialmente no Nordeste.
Gênesis
O SESI – Serviço Social da Indústria foi criado em 25 de junho de 1946 por decreto-lei, sendo presidente da República, o general Eurico Gaspar Dutra (CRONOLOGIA, “Nosso Século” volume 1945/1960). O sistema S, formado pelo Sesc, Senac, Sesi, Senai, Senar e Sebrae, recolhe cerca de R$2 bilhões/ano (exercício de 2000) e é mantido pelos empregadores com contribuição oriunda da folha de pagamentos. Presta relevantes serviços sociais e educacionais aos assalariados e aos próprios empresários. E, conseqüentemente, ao País.
O Sesi, Departamento Nacional, cuja sede era no Rio de Janeiro e tendo à frente um cearense – Thomas Pompeu – e, na sua coordenação esportiva o Coronel da Aeronáutica Otto Reis e Silva, criou e incentivou o esporte nacional durante algum tempo, com investimentos significativos na iniciação esportiva. Em janeiro de 1974, fui convidado a fazer parte da equipe de professores (terceirizados) no Rio de Janeiro, que auxiliavam na promoção dos cursos de iniciação e atualização em diferentes Centros Esportivos da entidade. Mais especialmente, no Nordeste. Nesta minha primeira e inesquecível experiência tive a ajuda e participação inesperada de um colega de universidade, Petrúcio, excelente professor de judô. O destino era o Centro do Ibura, nos arredores do aeroporto de Guararapes, em Recife (PE). Sabedor de minha especialidade presenteou-me antes mesmo do embarque com um pequeno recorte de revista, rasgado, que informava ao leitor sobre uma forma de aproveitamento de espaço para o ensino do voleibol para iniciantes: “vôlei em campo pequeno”. O recorte não tinha mais do que dois períodos de texto, mas um providencial croqui sobre aquela forma de dispor os campos num ginásio ou espaço equivalente. Na viagem, já fui matutando como poderia dispor os alunos e construir uma metodologia pertinente para os professores que fariam o curso de monitores. O Centro estava em obras, não tendo sido ainda inaugurado. Isto contribuiu para que, junto com o gerente, pudesse esquematizar como construir os postes removíveis que bolara para a confecção das pequenas quadras de jogo. Aproveitamos tubos de PVC e construímos as bases com discos (30cm) de concreto. Os postes não receberiam redes, mas sim cordas: furâ-mo-los a 2,5m de altura, e uma única corda foi perpassada, do primeiro ao último, compondo várias miniquadras, no sentido longitudinal de uma quadra (de tabela à tabela). A marcação improvisada com giz ou carvão deu o toque final às medidas dos campos de jogo. Metodologia e pedagogia foram produzidas em curtíssimo espaço de tempo, ou simultaneamente às aulas, de acordo com a imaginação. “Fiz-me criança e dei vazão à criação”. Quando do retorno, descobri na biblioteca do Sesi artigo elucidativo daquele que considerei “guru” e orientador neste trabalho precursor, o alemão Gerard Dürwächter, com quem me encontraria um ano depois, na Suécia.
Empolgado pelas aulas e receptividade das crianças, aprofundei-me em leituras, tendo desenvolvido, então, um curso didático para professores, estabelecendo métodos e caminhos a perseguir na iniciação do vôlei, dando-lhe característica diversa à que estávamos acostumados nas escolas de Educação Física e mesmo nos clubes. Além de ocuparmos mais alunos por classe, as aulas passaram a ser muito mais dinâmicas, alegres e ruidosas, despertando a atenção e atraindo mais adeptos para o esporte. Realizei no mesmo ano, em julho, ainda no Ibura, um segundo curso, com outros professores, consolidando o método. Produzi todo o planejamento e material didático em diapositivos permitindo maior criatividade nas aulas e demonstração do método por toda a equipe do Sesi simultaneamente em outros Centros. No início de dezembro, ainda em 74, realizei um curso (3 dias) de atualização para professores do Sesi de Santo André (SP), onde se destacavam como alunos, Walderbi Romani e José Carlos Brunoro, ambos professores do Sesi. Este último viria a ser também técnico da seleção, da Pirelli e, hoje, consagrado empresário esportivo.
Quer saber mais? Envie seu comentário...



















sábado, 5 de dezembro de 2009

História do Voleibol no Brasil, séc. XX


Uma obra memorialista
Diz-se que o brasileiro não tem memória. Isto é um fato. Daí poderem aquilatar o meu esforço de muitos e muitos anos de trabalho para juntar os pedaços de memória que dormitavam em caixas, pastas e envelopes de muitos lares. Presto uma homenagem única a todos que nunca estiveram no foco das televisões ou revistas especializadas: seus nomes (aproximadamente dois mil) estão impressos e eternizados nesta obra. São tempos que nunca nos esqueceremos e nas suas leituras você se sentirá sorrindo, jogando, saltando... Saberá também sobre a Evolução das Regras, a Arbitragem com seus personagens e histórias hilárias, o nascimento do Vôlei de Praia, Jogos de Cambuquira, Jogos da Primavera, Jogos Infantis, Mini Voleibol e muito mais coisas.

Pedidos
A obra já está no prelo e as histórias estão contadas a partir desse volume com aproximadamente 600 páginas e um número alentado de fotos. Ali são narrados acontecimentos no Rio de Janeiro desde 1939. Se você participou de alguma forma como atleta, técnico, ou na equipe de arbitragem nos anos de 1960 a 1970, muito provavelmente verá ali o seu nome, e ainda, o resumo das Atas de Reunião de Diretoria da FMV (1944-1956), uma raridade encontrada nos porões do Maracanã.
Não tenho qualquer patrocínio, arco com todas as despesas e, por isso, a tiragem é restrita e preliminarmente direcionada aos principais artífices dessas histórias. Os pedidos/reservas podem ser feitos diretamente ao autor em roberto_pimentel@terra.com.br ou mesmo para este blog. Não espere muito e teça comentários. Se você tiver algum contato relativo a patrocínio/apoio, ainda há tempo de concretizá-lo.

Seleções brasileiras
Um segundo volume com pouco mais de 500 páginas estará complementando o trabalho. Nele, acompanho as seleções brasileiras desde sua primeira formação em 1951. Estará enriquecido com outros aspectos relativos às nossas representações em campeonatos internacionais e comentários pertinentes. Aguarde um pouco mais, pois já está pronta para ser enviada à gráfica. Imagino, então, que a partir daí terão nas mãos uma obra de referência inédita.
Apresentação (Resumo, por Arlindo Lopes Corrêa)
Nos últimos anos tenho acompanhado Roberto Pimentel em seu esforço hercúleo e persistente para escrever a “História do Voleibol no Brasil”. (...) Paixão! Essa é a palavra-chave... O trabalho enciclopédico de Roberto Pimentel e todo sacrifício pessoal que implicou só foram possíveis e se explicam por uma paixão profunda do autor pelo voleibol, esporte no qual foi exímio praticante, excelente técnico, professor dedicado e agora o seu mais completo memorialista. Roberto Pimentel, pioneiro do minivoleibol no Brasil, é de uma geração abnegada do voleibol nacional.
(...) Nada escapou ao enciclopedista do voleibol, como se deduzirá da leitura desta obra de referência, (...) Porque, coerente, Roberto fez seu trabalho como nossa geração praticou o esporte: com grande amor e com o exclusivo interesse de nos superarmos a nós mesmos, de ultrapassarmos nossas limitações físicas e psicológicas. Afinal, é essa posição filosófica diante da vida que confere uma insubstituível dimensão ética à atividade humana em sua passagem pelo mundo.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Mini voleibol na escola

Experiência em trabalhos ativos: originalidade e liberdade
No final da década de 70 sugeri à coordenação do colégio Salesianos, de Niterói, a implantação do minivoleibol no recreio e horas vagas de seus alunos. Foram instaladas treze pequenas quadras que permaneceram até nossos dias, sempre disponíveis para a prática livre, fora do horário de aula e sem a presença de qualquer professor. Após breve período de adaptação com a novidade e a consequente aceitação, a Coordenação de Educação Física houve por bem definir a disponibilidade dos campos por séries, de forma a atender a demanda democraticamente. Mais adiante, foi-lhes sugerido organizarem torneios, que se tornaram um acontecimento inédito. E, ainda, sem a participação dos docentes. Regras, tabelas de jogos, tudo orquestrado pelos alunos. Promovi também uma reportagem inédita com a TV - Educativa no intuito de divulgar a metodologia e suas inerentes vantagens. Foi vinculada para todo o País.
Com o passar do tempo, registrou-se um fato concreto, comentado pelo experiente professor das equipes de voleibol do educandário: “A partir da instalação dos pequenos campos, os candidatos a integrarem nossas equipes já chegam jogando voleibol”.
Exemplos dessa natureza observei igualmente em clube da Zona Sul do Rio de Janeiro, onde instalei alguns campos para a prática do mini voleibol: as crianças, por si só desenvolviam destreza e habilidade no manejo da bola, raciocínio rápido e, ainda, uma inteligência tática muito aprimorada, capaz de encantar qualquer observador mais atento. Em suma, “aprendem sozinhos”, sem a presença do professor.
Estas são formas de como solucionar dificuldades para aplicação do ensino de um desporto – despertar o interesse e disponibilizar instalações e equipamento – a custo baixo. Basta ao professor, mesmo generalista ou com pouco conhecimento do voleibol, que indique aos seus alunos alguns dispositivos básicos – como organizar um torneio – para que adquiram a capacidade de se desenvolverem por conta própria.

Detalhes que fazem a diferença
Numa das aulas de apresentação da metodologia que emprego em outro educandário, observei alguns pequenos detalhes que revelam quase sempre a conduta pedagógica do estabelecimento. Nos momentos que antecederam a apresentação da classe, reparei o deslocamento quase militar dos 24 alunos sob a batuta de um dos professores de educação física. Até a entrega do grupo no ginásio onde realizaríamos a apresentação foi um silêncio constrangedor, em se tratando de crianças de 12-13 anos de idade. Após as devidas apresentações e com a presença da diretora iniciamos a aula.
Procedeu-se uma mudança brutal de comportamento, uma vez que os concitei a produzirem uma pequena algazarra com movimentos livres com a bola que cada um recebeu. Aos gritos, lançavam-nas ao alto, deixavam quicar no solo, entreolhavam-se sorrindo; dando sequência, sugeria outros movimentos buscando a espontaneidade de gestos, o que lhes parecia o paraíso. A seguir ia introduzindo novos elementos e exercícios. No entanto, não pude deixar de notar, havia uma única menina na arquibancada, muito agasalhada para o calor reinante. Inicialmente, sentara-se distante (5-6 degraus acima). Convidei-a a participar, mesmo sem o uniforme de ginástica, mas declinou gentilmente. A aula continuava agitadíssima e em dado momento pude ouvir um dos maiores elogios que um professor poderia receber por seu trabalho, ainda mais vindo de aluno que conhecera naquele instante. En passant, disse um para o outro: “Puxa, assim que tinha que ser as aulas de educação física do colégio!”. Sem perder a pose continuei meu trabalho e, mais uma vez, meu olhar posou na mesma menina da arquibancada que, agora, estava à beira da quadra e pude observar seu semblante de alegria e fervorosa vontade de estar ali brincando com os demais. Diante de novo convite discreto, disse-me: “Não posso participar, estou sem uniforme do colégio” (por isso o casaco). Ao que retruquei: “Venha assim mesmo”! Não resistiu e imiscuiu-se entre os colegas, divertindo-se a valer.

Um lembrete
“O sucesso individual é determinado pelo seu desejo (interesse), capacidade de ser ensinável e vontade de trabalhar”.
Uma regra escolar para favorecer o crescimento do aluno e sua liberdade (relativa) deveria ser a execução de uma atividade envolvente, o que o torna automaticamente disciplinado. Esta liberdade pode ser vista como a possibilidade do ser humano vencer obstáculos. Buscam-se técnicas pedagógicas que possam atrair TODAS as crianças no processo de aprendizagem, independentemente da diferença de caráter, inteligência ou meio social, lembrando que o conteúdo estudado no meio escolar deverá estar relacionado às condições reais de seus alunos e sua importância nas relações aluno-escola. Por ironia do destino, foi este mesmo colégio que freqüentei aos 11-12 anos de idade (1951-52) e, conforme relato na crônica anterior, foi ali que participei de torneios internos de basquetebol e dos Jogos Infantis. Embora a diretora seja a mesma daqueles momentos, quero crer que muita coisa mudou no educandário – para pior, infelizmente.
Dessa forma, propõe-se aos professores idealistas que estudem as condições concretas que estejam impedindo a realização de seus projetos. Uma proposta seria reinventar antigas formas de associação de alunos – o Centro Acadêmico, a Associação Atlética – que persistiram em alguns educandários até o final da década de 50. Seria uma solução para a falta de tempo dos docentes e economia para a instituição, uma vez que os próprios alunos poderiam se conduzir. E, como vimos no depoimento bem piagetiano do professor, "as crianças aprendem sozinhas".
E você, tem alguma experiência neste sentido. Gostaria de tentar? Não conheço professor que tenha reclamado.