segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Iniciação e Formação em Voleibol

Palavras-chave: Metodologia de ensino. Aprender brincando e jogando. Problemas na iniciação. Ensino na escola e no clube.

Em 14.6.2009, inscrevi-me para fazer parte de um site brasileiro que promove fóruns de discussão sobre temas relacionados à Educação Física, Esportes e Lazer. Trata-se do Centro Esportivo Virtual. Até aquela data não havia qualquer participação na “comunidade” de voleibol. Assim, dei início com o seguinte convite: “Tenho propostas e alguma experiência a respeito da iniciação ao voleibol, especialmente no ambiente escolar. Coloco-me neste espaço à disposição de tecermos comentários a respeito e nos enriquecer mutuamente”. Foi o bastante para que, no dia seguinte, dois professores atendessem ao chamado e inserissem os seus dizeres:
1. Guilherme de Souza Pereira - Muito se escreve e se fala a respeito, mas observo que os modelos são cópias e muito desmotivante quando colocados em prática. O jogo em si é pouco explorado no início das aulas e os exercícios de fundamentos são cansativos e pouco motivantes para as crianças. O que voce acha disto? A aplicação de pequenos jogos com redução de quadra e sem exigencias de técnicas apuradas não seria o melhor caminho?
2. Milton Serra da Fonseca Júnior – Eu penso que a aprendizagem/iniciação ao voleibol está diretamente relacionada ao ambiente aonde este trabalho vai se desenvolver. Na escola, objetivos, procedimentos e conteúdos tem um determinado perfil; em clubes ou escolas de esportes, creio que muda um pouco o quadro. O voleibol por ser baseado em movimentos construídos apresenta alta complexidade na execução dos gestos técnicos, além de alta complexidade na mecânica do jogo. Para tornarmos esta aprendizagem mais interessante, devemos trabalhar com alguma ludicidade para os alunos, pois se ficarmos só na questão estritamente técnica este processo será massante e afastará muitos alunos. E devemos propor estruturas simplificadas para práticas que usem elementos do jogo, para gerar prazer e sucesso, motivando o aluno e criando pequenos desafios, adequados ao nível de respostas que ele seja capaz de produzir. Penso que os jogos reduzidos é uma estratégia adequada que reune muitas destas características citadas acima.
3. Roberto A. Pimentel – Concordo com o que ambos colocaram. Como resolver a questão? Torna-se quase que óbvio que devamos buscar uma nova metodologia que contemple soluções imediatas. Existe um caminho que me parece bastante prático e natural. Inicialmente, é preciso que se criem mecanismos de "Atração e Envolvimento" do aprendiz, seja ele criança ou adulto. Minhas atuações com ambas as faixas me levaram a conquistas sem precedentes. Dessa forma, as aulas viraram verdadeiras "produções" para conquistar os alunos. Tem dado certo e ainda não entendi porque outros professores não o fazem. Como em princípio as crianças querem é se divertir e brincar, satisfaço-as nestes quesitos e, ainda, acrescento:"Quem não fizer bagunça não ganha picolé!" É uma algazarra formidável. Evidentemente, que tudo sobre controle não ostensivo. Uso muita alternância de tarefas e muito material criativo, como paraquedas, puçás, dezenas de bolas de tênis, biruta, bolas coloridas (bexigas, de aniversário) que me permitem realizar as brincadeiras. Outro detalhe, é o anúncio de que TODOS conseguem jogar a partir da primeira aula. E não os decepciono. Relativamente aos treinos em colégios ou em clubes, foi um assombro quando realizei durante uma semana as mesmas aulas empregadas na escola no Fluminense, do Rio de Janeiro. Alí se desenvolvia talvez a melhor iniciação comandada pelo saudoso Bené, que produziu atletas formidáveis, como Bernard, Fernandão, Badalhoca e Bernardinho, todos da "geração de prata", vice-campeões olímpicos. Numa próxima aparição, se tiverem paciência comigo, darei minha impressão sobre este estado de coisas no desporto brasileiro. Lembrem-se que a Iniciação (Formação) nunca mereceu a atenção que lhe deveria ser dispensada.
A seguir, sob o título “Problemas na Iniciação Esportiva”, os professores Guilherme e Milton colocaram suas observações do dia-a-dia, que me permiti resumir e comentá-las:
Roberto A. Pimentel (em 20-06-2009) – Permiti-me resumir as dúvidas e dificuldades que relataram. Coloquei algumas outras para discutirmos e buscarmos as soluções, como uma “paradinha para pensar” e enxergar as questões de outro ângulo. Para termos idéias novas, criativas, inovadoras, opinião independente, temos que aprimorar primeiro os nossos sentidos. Não lhes parece o melhor caminho? Parece que não estamos sozinhos. Entrem na “comunidade do basquete” e observem o que dizem os professores a respeito da evasão de protagonistas em Porto Alegre (RS) e em Barueri (SP): “Vão discutir o problema com a coordenadoria”. Estou inclinado a convidá-los para nossas discussões, pois não acham que têm as mesma dificuldades? Eis as dificuldades e problemas colocados pelos professores e os meus comentários:
Guilherme de Souza Pereira – (...) Seria interessante também a troca de experiências neste nível, pois só encontramos bibliografias e estudos do voleibol de alto nível ou competitivo. As bibliografias que versam sobre a iniciação são a meu ver falhas e sem muita objetividade, muito vagas e monótonas. (1) Metodologia não motiva - (2) Crianças não conseguem jogar - (3) Exercícios monótonos - (4) Solução: aplicação de pequenos jogos; redução da quadra; não exigência de técnicas apuradas.
Roberto A. Pimentel – (1) Convite a uma busca de uma Nova Metodologia, motivo dessas conversas. Como fazer? As “receitas” são muitas, mas não redundam em melhoria. Trata-se do grande abismo entre Teoria e Prática. (2) TODOS jogam a partir da 1ª aula, não importa a sua habilidade. É importante para que se sintam seguros, participantes, incluídos entre todos: “Sou capaz!” Os aspectos psico-sociais estão inteiramente assegurados e prestes a se desenvolver com força. Como realizar esta façanha numa classe? No clube os “mais fracos” seriam alijados. Devo fazer o mesmo na escola ao dispensar da aula quem não quer jogar? Só jogam os melhores? (3) Utilizo muito material “alternativo” para CRIAR os exercícios. Todos praticam ao mesmo tempo e NÃO há preocupação com o gesto técnico. Inicialmente, o que importa é que as crianças consigam ter a sensação de que estão jogando. A pouco e pouco terão mais informações. Isto implica no que disse a respeito de ”produção, atração, envolvimento, brincadeiras”. (4) Está perfeito. Contudo, a condução da classe é outra questão. Ensinar não é uma ciência, mas uma arte.
Milton Serra da Fonseca Júnior – As colocações desse professor resumiram-se a três detalhes: (1) Escola ou clube? - (2) Práticas lúdicas e desafios - (3) Jogo em campo reduzido.
Roberto A. Pimentel: (1) Produzi treinos excelentes em clubes renomados do Rio; o Bernardinho aplicou no Centro Rexona, em Curitiba, o minivolei que me “encomendou” na Praia de Copacabana; o governo estadual do Paraná aplicou-o em várias escolas. Por que não daria certo? Qualquer mudança é traumática. Os novos profissionais são levados pelo sistema a resolver estes problemas práticos, aplicando certo número de “receitas” técnicas que representam fórmulas dogmáticas ultrapassadas durante anos. Não há tempo para parar e pensar? (2) Está certíssimo, desde que haja um planejamento das ações orientadas para o aprendizado da modalidade e respeitados aspectos psico-fisiológicos da criança. (3) Perfeito, porém não basta. Como fazer numa aula com 20-30 alunos? Como motivá-los? Classes mistas? E as demais diferenças?
Em outro momento, se estiverem interessados, vou dizer-lhes como consegui reunir 400 crianças (8-13 anos) em curso regular na “minha praia”.

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